sexta-feira, 5 de novembro de 2010

Balangandãs




Claudia Bontempo

Lourdinha nem tinha um corpo escultural, a bundinha era um pouco para dentro, nem rosto de princesa, o nariz aquilino denunciava a descendência espanhola. Mas a faceirice no olhar, o jogar dos cabelos quando falava davam um charme ímpar àquela tijucana . O irmão, Calixto, um tipo ciumento e musculoso, seguia seus passos como um cão de guarda e inibia os fiufius dos rapazes nas tardes de domingo da praça Sães Pena.

Todos se gabavam para ver quem seria o primeiro corajoso a convidar Lourdinha para a tarde dançante do Tijuca Tênis Clube. Enquanto isso,Juarez, um estudante do colégio militar, fora da confusão, bolava um jeito de chegar perto da espanholinha sem despertar a ira do peso pesado.

- Comida quente se come pelas beiradas.

E passou a segui-la de longe, pelas ruas do bairro, prestando atenção aos detalhes de sua rotina. A hora em que pegava o lotação para o colégio, o salão de beleza que fazia pedicure, a missa que assistia na paróquia com a família. Numa dessas idas e vindas, viu Lourdinha entrar em uma lojinha de presentes, sempre com o fortão do lado, mas sair sem indícios de compra e achou-a um tanto quanto amuada.

Juarez entrou logo depois no estabelecimento e, conversa vai, conversa vem, com a vendedora, perguntou-lhe qual o mimo despertara o interesse da moça. Ela prontamente lhe mostrou uma pulseirinha de prata cheia de balangandãs que tilintavam e brilhavam na luz. Achando que essa seria a oportunidade de ter um lugar ao sol no coração de Lourdinha, comprou o presentinho e pediu que entregasse na sua casa com um bilhetinho que dizia:

“ Meu coração bate por você na cadência do tilintar desses balangandãs, se quiser me conhecer coloque a pulseirinha e me espere no muro atrás da paróquia, hoje às seis da tarde”

Juarez foi para casa imaginando a entrada pela porta principal do Tijuca Tênis Clube de braço dado com Lourdinha trajando vestido de fustão e sapato de verniz. Dançariam a noite inteira diante dos olhares despeitados dos rapazes, na varanda talvez lhe roubasse um beijo. A boquinha, os cabelos, os olhinhos de Lourdinha.

No mesmo dia às seis da tarde, no muro atrás da igreja, um Juarez nervoso e excessivamente perfumado encontrou Calixto, de casaco e pantalona de couro, sacolejando o pulso com a pulseira de prata de balangandãs que lhe lançou um olhar lânguido. Só faltaram as castanholas.






3 comentários:

  1. Bontempo, muito bom!!!
    Posso fazer uma observação? Acho que você usou diminutivos demais. Mesmo que a intenção fosse abusar dos diminutivos para dar um tom mais pitoresco à estória, em algumas frases tem dois ou três diminutivos seguidos, o que acaba dando um ritmo mais lento ao texto.
    De resto, muito bom!
    Monica

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  2. Achei o conto bom, mas sem a densidade dramática das suas crônicas dos bons tempos, que deixaram saudades. A foto não se coaduna com o espírito da história. É simplesmente fúnebre. Coloque algo colorido.
    Luigi

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  3. Claudia!
    Agora sim é que ficou funéreo. Se foi pra me castigar, perdoe, e volte ao modelo anterior. Prometo que vou me acostumar.
    Luigi

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