Segurança pública é um assunto que me interessa na medida em que sou afetado, tanto pela ação dos marginais como da polícia. De segurança pública nada entendo. Nem ao menos sei quando estou lidando com a polícia militar, com a polícia civil ou com a polícia municipal. Aliás, nunca entendi por que são necessárias três polícias para garantir a minha sobrevivência. No Chile, onde vivi por algum tempo, havia os “carabineiros” e eles eram suficientes. Nunca vi nenhum barrigudo entre eles, é bom registrar. Portanto não pretendo - nem poderia - falar sobre segurança pública. Mas quero contar o que senti quando os “poderes públicos” – acho que é a melhor forma de não excluir ninguém – resolveram desencadear uma guerra para acabar de vez com o tráfico. E, também, porque não quero passar por ingênuo.
Ao findar o ano de 2010 o governo do Estado do Rio de Janeiro reuniu as polícias militar e civil , apoiadas pelo Exército e a Marinha com seus carros blindados, tanques de guerra e veículos de assalto, para um ataque decisivo ao crime. A Aeronáutica perscrutava os céus para fornecer informações sobre o inimigo. As forças oficiais ocupariam as favelas, expulsariam os traficantes e a partir daí o combate ao crime seria permanente.
É preciso enaltecer a bravura com que soldados e civis se conduziram no desempenho de sua missão. A televisão mostrou cenas convincentes da coragem e desprendimento com que cumpriam ordens. Mas o que não ficou claro foi o “conceito” da operação. Teria sido planejada com base numa política de segurança pública? O estado dispunha de uma política de segurança pública? Não parece. Do contrário o tráfico não teria alcançado o poder que tem hoje e as milícias não se teriam criado.
Sejamos francos. Essa operação não foi mais do que uma resposta ao gesto insensato dos traficantes que, num surto de burrice, resolveram sair pela cidade incendiando carros e ônibus. Apenas uma represália ao governo pela transferência de presídio de alguns chefes do tráfico. Uma demonstração de força que humilhou governantes e cidadãos. Ou não foi isso que aconteceu? Era preciso conter o vandalismo nas ruas e dar uma resposta à opinião pública. E sem a ajuda do Exército o Estado seria derrotado.
As televisões, ficaram 24 horas no ar, glorificando a ação, dando-nos a entender que o combate ao crime agora é pra valer. Balela. Em nenhum momento se questionou se aquilo levaria a algum lugar. Nenhuma palavra sobre as milícias, os acordos espúrios, os conflitos entre os diversos órgãos e seu espírito de corpo.
Escrevi tudo isto por dois motivos: primeiro, porque gostaria de me ver contestado; segundo, porque encontrei um bom motivo para divulgar o comentário escrito naquela ocasião por Luiz Eduardo Soares*.
Ou se começa a falar sério e levar a sério a tragédia da insegurança pública no Brasil, ou será pelo menos mais digno furtar-se a fazer coro com a farsa.”
Luiz Eduardo Soares*Luiz Eduardo Soares escreveu o livro “Meu Casaco de General”, que deveria ser leitura obrigatória para todos os eleitores deste país.
Oi, Luigi, infelizmente não terei o prazer de contestá-lo. Como vocês todos já sabem, sou a rebelde do grupo e adoro contestações. Mas desta vez concordo plenamente com você.
ResponderExcluirA sensação que tive nesta presepada toda foi que estavamos sendo cúmplices de uma grande farsa, armada não somente para dar uma resposta "`a altura" dos atos de vandalismo praticados nos dias anteriores como também uma satisfação aos patrocinadpres dos futuros eventos que acontecerão no Rio. Algo patético como: viram só, a gente é capaz de derrotar os bandidos, não tenham medo. E somente um idiota é capaz de acreditar que tudo aquilo ocorreu sem um prévio acordo com os traficantes. Até porque todos, nós e eles, sabiam quais seriam os próximos passos das polícias, o que deu tempo de sobra para quem quisesse fugir.
Além disso, como acreditar que existe a sincera intenção de conter o tráfico + violência se nada de sério é feito quanto ao consumo de drogas e a entrada das mesmas no país? Ou alguém acha que são os traficantes que moram nos morros cariocas que vão buscar coca e cia nos locais de produção? Ou que as mesmas são consumidas somente nas favelas? Mas claro, lidar com o "asfalto" é mais difícil, envolve gente que tem poder de fato, então vamos lá, trinta mil UPPs, traficantes fujam todos para fora do Rio e vivamos todos felizes para sempre. E a Globo adora, policiais brincando com criancinhas, bandidos fugindo aos kilos, moradores elogiando a nova polícia e, de vez em quando, umas ceninhas de terror para dar mais audiência.
Enfim, (comentário longo esse...), concordo plenamente com você!
beijo
Monica
Mônica
ResponderExcluirAchei muito bom o seu comentário e contente por ter seu apoio. Sei que este não é o lugar para debates mas não tinha nada mais ameno para escrever e não queria deixar a nossa cozinha de fogo morto. Coloquei um link para o blog do Luiz Eduardo Soares que é quem entende de segurança. Clique no nome dele e você cairá lá.Vale a pena.
Até para não passar por idiota. Beijos,
Luigi
O que aconteceu no sistema de segurança pública do Rio de Janeiro nos últimos dias mostra que o que escrevi não estava nada fora de órbita. Parece que começaram a golpear o corporativismo. Vejam o que disse o Luiz Eduardo Soares na sua postagem de hoje, 16 Fevereiro:
ResponderExcluir"Sendo assim, vendo, hoje, Martha Rocha alçada à chefia da PC, Cláudio Ferraz na sub-secretaria de inteligência e Beltrame resistindo aos golpes corporativistas de lideranças oligárquicas que se eternizam em associações profissionais, volto a sentir esperança. Podemos estar nas vésperas de um salto de qualidade. Vai depender da disposição do comando da secretaria e da PC".
Para saber a história inteira visite o blog do Eduardo. Deixei um link no final da minha postagem. Saudades.
Luigi