sábado, 19 de dezembro de 2009

LETRAS MIUDAS DO CONTRATO


“Pai, vamos esperar o sol nascer?”
“Vamos, filho, vamos.”

Era o Caio, meu sobrinho neto, beirando os nove anos, que convidava o pai para mais um programa selecionado entre os tantos que este, um fervoroso admirador da natureza, vinha proporcionando ao filho desde tenra idade.
O nascer do sol já havia sido contemplado de muitos lugares: da praia do Arpoador, da Praia da Barra, da Pedra do Leme, das montanhas de Nova Friburgo e de onde mais se possa imaginar. Desta vez, seria da janela do apartamento. Decididamente Fernando havia transformado o filho num grande apreciador dos fenômenos naturais, respeitador da fauna e da flora e num arguto observador de tudo o que se passa no mundo, desde a cozinha de sua casa até o Estádio do Maracanã.

Eram onze horas da noite, provavelmente. O pai lia o jornal. Caio caminhava de um lado para outro, excitado, prelibando o espetáculo do alvorecer ao qual assistiria na companhia confortadora do pai. Este, depois de alguns momentos, dobrou vagarosamente o jornal, encaminhou-se para o quarto, e deitou-se para dormir.

“PAI! Você não disse que ia esperar o sol nascer?”

“Disse, meu filho, e vou. Vou esperar o sol nascer, deitado na minha cama, porque é mais confortável. Você não me perguntou se eu queria “esperar” o sol nascer?. Então, você pode fazer a mesma coisa deitado na sua cama. Agora, se você quiser “ver” o sol nascer, você pode ficar lá na janela. De lá você vê. E olhando amorosamente para o filho, enfiou-se embaixo das cobertas.

Guilherme, o irmão mais velho, que contemplava a cena, apontando o dedo para o nariz de um desapontado Caio, com voz solene e pausada, declara:

“Letras miúdas do contrato, Caio, letras miúdas do contrato!”

4 comentários:

  1. Meu caro Luigi,
    Sempre me surpreendo com sua capacidade de contar histórias.
    Sabe, há alguns dias, eu conversava com um querido amigo, dos mais inteligentes que conheço, e ele me contava algo, eu ria e ria da criatividade da sua história inventada.
    Pois bem, mas não é que não era invenção e era tudo verdade mesmo ? Então, deu-se o seguinte diálogo entre nós, que guardei na minha bolsinha;
    - Não sou tão criativo a ponto de iventar uma história.
    Eu então lhe respondi:
    - As histórias estão todas no nosso dia a dia, as palavras que escolhemos para contá-las é que as fazem interessantes.

    Meu bom Luigi, suas escolhas de palavras são perfeitas, deve ser mesmo a tal da meditação !

    Sua admiradora de sempre,

    A tal da Bontempo

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  2. Luigi,
    aprendi mais uma: Prelibar. Assim meu vocabulário vai ficar maior do que o do Lula em bem pouco tempo. Quem sabe eu deixe de ser dona de casa e vire presidente da república? Melhor não! Não querendo ser repetitiva mas já sendo: Adorei a crônica, vejo que o senso de humor é coisa de família. Márcia

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  3. Márcia
    Para você se tornar presidente da república federativa do Brasil precisaria desaprender um monte de palavras que já sabe e aprender outras mais chulas!
    Monica Noronha

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