"As pessoas se irritam com aqueles que adotam padrões de vida muito individuais; elas se sentem humilhadas, reduzidas a seres ordinários, com o tratamento extraordinário que eles dispensam a si mesmos." ( F. Nietzsche)
Me mudaram para outra sala, adorei o espaço, os móveis modernos e tinindo de novos. Até comprei dois pares de sapatos de saltos altos e uma a bolsa, que foi cara, para combinar com os dois pares de sapatos. Comecei a usar uns vestidos mais curtos para realçar as minhas pernas, que dizem serem muito bonitas. Até me animei a fazer escova no cabelo, dia sim, dia não. Ouvi um elogio bem quente de um colega que sempre me achou invisível.
Acontece que antes trabalhava sozinha num rabicho de sala, e com a mudança tive que dividir meu espaço com ela. Mal a conheço, tomara que nossa convivência dê certo. Gosto de pessoas mais descoladas e ela é muito certinha. Sua mesa é arrumada, com todas as canetas e lápis dispostos, cuidadosamente, dentro do porta-lápis. Os poucos papéis são lisinhos e sem marcas de manuseio, impecavelmente, dispostos num porta papéis. Um tremendo contraste com a bagunça da minha mesa. Isso me incomoda um pouco.
A primeira vez que a vi abrindo o seu laptop, reparei que está novinho em folha, apesar de ter o mesmo tempo que o meu. Quando ela começou a teclar, seus dedos, tipo delicados, mal tocaram nas teclas. Atendeu ao telefone, silenciosamente, e eu sequer ouvi se falava com um homem ou com uma mulher. Gente assim me dá nos nervos.
Ganhamos bombons do chefe, fiquei esgueirando o jeito entediante dela morder devagar, mastigar, calmamente, de boca fechada. Eu coloquei aquela delícia toda na boca de uma vez. Não vou agüentar conviver o dia inteiro com alguém que come assim.
Ela fala baixo, pronuncia as frases com clareza. Nunca dá uma gargalhada, apenas sorri. Claro que não tem a minha alegria esfuziante. Quando chega de manhã,me dá um bom dia cordial e senta-se na cadeira com uma postura invejável. Não relaxa. Esta sala está ficando cada vez mais apertada para nós duas.
Há alguns dias não faço escova nos cabelos e voltei a usar minha sandália usaflex bege . Estou vendo um jeito de sair desta sala. Me sinto enjaulada, com ela apontando, dia após dia, os meus excessos, como se fossem defeitos. Vou acabar me aborrecendo e lhe dizendo uns desaforos. Afinal quem ela pensa que é com esse ar superior ?
Agora mesmo, só para me irritar, guardou os óculos, envoltos numa flanela, dentro de um porta óculos acolchoado.
Acontece que antes trabalhava sozinha num rabicho de sala, e com a mudança tive que dividir meu espaço com ela. Mal a conheço, tomara que nossa convivência dê certo. Gosto de pessoas mais descoladas e ela é muito certinha. Sua mesa é arrumada, com todas as canetas e lápis dispostos, cuidadosamente, dentro do porta-lápis. Os poucos papéis são lisinhos e sem marcas de manuseio, impecavelmente, dispostos num porta papéis. Um tremendo contraste com a bagunça da minha mesa. Isso me incomoda um pouco.
A primeira vez que a vi abrindo o seu laptop, reparei que está novinho em folha, apesar de ter o mesmo tempo que o meu. Quando ela começou a teclar, seus dedos, tipo delicados, mal tocaram nas teclas. Atendeu ao telefone, silenciosamente, e eu sequer ouvi se falava com um homem ou com uma mulher. Gente assim me dá nos nervos.
Ganhamos bombons do chefe, fiquei esgueirando o jeito entediante dela morder devagar, mastigar, calmamente, de boca fechada. Eu coloquei aquela delícia toda na boca de uma vez. Não vou agüentar conviver o dia inteiro com alguém que come assim.
Ela fala baixo, pronuncia as frases com clareza. Nunca dá uma gargalhada, apenas sorri. Claro que não tem a minha alegria esfuziante. Quando chega de manhã,me dá um bom dia cordial e senta-se na cadeira com uma postura invejável. Não relaxa. Esta sala está ficando cada vez mais apertada para nós duas.
Há alguns dias não faço escova nos cabelos e voltei a usar minha sandália usaflex bege . Estou vendo um jeito de sair desta sala. Me sinto enjaulada, com ela apontando, dia após dia, os meus excessos, como se fossem defeitos. Vou acabar me aborrecendo e lhe dizendo uns desaforos. Afinal quem ela pensa que é com esse ar superior ?
Agora mesmo, só para me irritar, guardou os óculos, envoltos numa flanela, dentro de um porta óculos acolchoado.
Claudia
ResponderExcluirAchei muito bom o seu texto, que tem a qualidade de um ensaio. Só estou na dúvida se é sobre o ciume ou a inveja? Ou ambos?
Oi amigo,
ResponderExcluirNão sei. Acho que é sobre a obsessão de alguém por outra pessoa... Sei lá.
Está história é o resultado de um exercício da Oficina da Estação.
Deveríamos ler o conto do Sergio Santana "Estranhos" e depois escrever o nosso com o mesmo título. Fiquei pensando em uma conversa que tive com uma querida amiga de lá que é toda organizada, um verdadeiro contraste comigo. Aí inventei esta história. Você sabe o quanto eu adoro inventar em cima da realidade, né ?
Se é sobre ciúme ou inveja ? O que você acha ? Eu não sei.
Acho, só acho, que quem não relaxa é a Sra que usa sandálias Usaflexs! A outra é como pode ser (somos o que podemos ser!). Também tenho essa mania de querer ser como os outros (organizada, centrada e comedida!) e de achar que os outros são o que são por pura implicância.
ResponderExcluirPor falar em inveja, fiquei com uma inveja danada de você começar o seu belo conto com uma próclise. Quando crescer vou escrever lindo como você. Beijos da Paçoca toda esfarelada de inveja!
7 de setembro de 2010 08:08
Uma sugestão: que tal apresentar essa senhora ao Pão???? Acho que fariam um belo casal!
ResponderExcluirNão sei se o sentimento do texto é inveja ou ciúme, mas eu o entendo perfeitamente. Para alguém destrambelhada, como eu, conviver com a ordem é quase uma afronta, como um nariz invisível farejando erros o tempo todo. E sutilmente.
Beijo
Monica