O pão nosso de cada dia. Esse é o pão.
O pão já tomou todas as formas que se pode imaginar. A “foccaccia” que aparece em algumas representações da Santa Ceia é feita, até hoje, tanto pelos camponeses da Lombardia como em muitos restaurantes sofisticados da Itália. Na Santa Ceia ele foi distribuído aos apóstolos e passou a representar o corpo de Cristo, que é transmitido aos fieis pela comunhão durante o santo sacrifício da missa.
“Corpus Domine nostrum Jesu Christi ...”
Sei que não deveria brincar com este assunto mas o próprio amadurecimento da Igreja me autoriza a fazê-lo. Porque me lembro como sofri em criança, ao comungar, quando a hóstia depositada sobre a língua me escapava e batia nos dentes. As advertências, nas aulas de catecismo eram severas: não se pode mastigar a hóstia, nem tocá-la com os dentes, porque ela representa o corpo de Deus. Eu ficava aterrorizado e me sentia, aos olhos de hoje, um verdadeiro canibal.
Atualmente, em muitas Igrejas, a comunhão é feita com pão de verdade, mastigável, mas ninguém me devolveu a alegria de compartilhar do corpo Cristo sem remorsos e culpas. E, certamente, meu sofrimento na infância não enalteceu o Senhor nem me tornou mais digno perante a sociedade dos homens.
... “custodiat animan tuam” ...
Quando meus filhos tinham 6 e 7 anos eu viajava muito e ficava longos períodos fora de casa. Numa dessa viagens, voltando da Itália, eu trazia um torrone de Cremona, considerado o melhor do pais. No primeiro jantar com a família abri o torrone para a sobremesa. Flamínio, o maior, levanta um fragmento da fina película de trigo que reveste todos os torrones do mundo e diz para a irmã:
- Olha, Flavia, igual àquele que a gente comeu na Igreja! Espantado, sem ligar coisa com coisa, eu perguntei:
- O que é que vocês andaram fazendo na Igreja?
- A gente estava na missa e viu que todo mundo formou uma fila e aí a gente também entrou e o padre deu um biscoitinho parecido com isto.
Olhei para a minha mulher:
-Você permitiu que eles fizessem a Primeira Comunhão sem nenhum preparo? E ela, ainda mais espantada do que eu:
- Eu não estava nessa missa. E estou ouvindo essa historia pela primeira vez. Como você.
... “in vitam aeterna, Amen!”.
Esse é o pão.
Luigi
Severino, que estória! Apesar de serem memórias, essa é uma bela crônica sobre o pão nosso de cada dia... De tantas coisas possíveis você escolheu a hóstia como tema. Eu jamais pensaria nisso. Não sou católica, acho que só comunguei na primeira comunhão e uma outra vez, numa época indefinível da minha vida (a única vez que tentei me aproximar da Igreja, sem muito sucesso, claro).
ResponderExcluirEu estou tão assoberbada que não ia nem fazer a tarefa da semana, mas agora é questão de honra. Me aguardem.
A propósito, que pão comeremos amanhã? (Pão profano, diga-se de passagem!)
Beijo
Monica