sexta-feira, 16 de julho de 2010

A Pena Da Morte



Eu tive um sonho
No meu sonho eu morria
E morrendo eu não me via
Sofrer, como devia

Porque sofrendo passei a vida inteira
E mesmo sabendo que a vida é passageira
Não me dei conta que um dia eu morreria

De repente uma pena apareceu no espaço
Riscando os ares, rápida e matreira
E apontando meu peito zombeteira
Disparou letras como um falso abraço

A pena desenhava no ar letras bem feitas
Que eu arrumava sem zelo em linhas tortas
Para que fossem consideradas letras mortas

E assim passou-se o tempo
Minha alma levitava em desatino
Pois negava-se a cumprir o seu destino
Mergulhar no Espaço Sideral que eterno dura
Onde pudesse iniciar vida mais pura

Eu me deixava flutuar no ar disperso
Para não perder as letras e desperdiçar o verso

Foi quando a pena, com sua ponta de platina
Tresloucada, insana, escreveu ferina:

“Aqui jaz o que achava
Que em sonho morreria
E em seu sonho delirava
Porque morto estava e não sabia”

N.B. A fotografia da caneta foi tirada da capa do livro
“Una Noche de Amor” de Javier Marías –H Kliczkowski, Editores - Madrid
Luigi

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