segunda-feira, 12 de julho de 2010

Ao Twitter, com carinho


Não sabia que o twitter era tão importante. Procurei incorporar-me a esse universo de pessoas quando vi que podiam comunicar-se entre si e espalhar notícias com a velocidade do relâmpago. Mas quando percebi o tempo que eu gastava garimpando notícias que pudessem servir para alguma coisa, desanimei. A maior parte delas ou eram bobagens tipo “hoje acordei cedo para lavar a roupa mas faltou água na minha casa”, ou eram notas pessoais de autoglorificação.
Até hoje não consigo entender a importância sócio-econômico-filosófica desse instrumento de comunicação que se alastra como fogo morro acima. Por causa disso desenvolvi um complexo de inferioridade que tento superar através da leitura dos tweets que são publicados na imprensa escrita, partindo do principio que, se ocupam o precioso espaço de jornais e revistas, é porque são importantes. O meu complexo só aumentou.
Perseverante, tratei de associar-me ao sistema tornando-me também um twitador, o que me fez mergulhar em profunda depressão, visto que, por incompetência minha, eu não conseguia alcançar um número expressivo de seguidores. Meus amigos aconselharam-me a não dar importância a isso: eu deveria me transformar em seguidor e acompanhar o twitter dos famosos, que iam desde o Obama até o Berlusconi e da Xuxa à Madonna. Foi quando descobri que, tal como no Orkut, no Facebook e nas Instituições de Caridade, havia twitters fake fazendo-se passar por gente famosa. Foi aí que me senti um verdadeiro palhaço.

Mas agora descobri o quanto eu estava errado. A colega Cora Rónai em sua crônica “ A Pátria de Notebook” (O Globo, 1 de Julho, 2010), uma preciosa meia página no lugar mais destacado do Segundo Caderno, traz esclarecedoras informações sobre a atividade twiteira. Discorrendo sobre a importância do twitter na torcida da Copa do Mundo, explica:

“Lá estavam brasileiros twitando de todas as partes do mundo, do coleguinha Jorge Pontual ... ao presidente da Microsoft para Ásia e Pacífico, Emilio Umeoca, que mora em Cingapura ... Claro que a “multidão” de cada um depende do número de pessoas seguidas. A esta altura todo mundo sabe, mas não custa repetir, que cada um vê, na sua tela inicial do Twitter, os comentários daqueles a quem segue. O pobre do Eike Batista tem uma vida muito solitária quando abre sua twit-janela, que só dá vista para os manda-chuvas da Rússia e dos Estados Unidos, para o Luciano Huck, para o Kaká e para um fake da chanceler alemã, Angie Merkel. Já pensaram o que é assistir à Copa nessa companhia?! Coisa de cortar os pulsos.”

Para ilustrar a beleza e a importância do mundo twiteiro na Copa, metade da meia página da crônica transcreve uma seleção de tweets indicando os respectivos endereços. Vou reproduzir uns poucos, para não abusar do espaço, mas recomendo a leitura de todos. São pérolas literárias que induzem á uma introspecção filosófica:

“A moça que trabalha na minha casa não curte jogo mas não pode ir para casa pq não tem ônibus. Beira ao ridículo essa paralisação.”
“Técnico do Chile preocupadíssimo. Se ficar no 0x0 e tiver prorrogação, capaz de eles perderem o vôo.”
“Aqui em casa eu me emociono quando ouço a galera gritando gol. E depois me emociono quando vejo.”
“Tá bom, Kaká. A gente já entendeu que você não é a Sandy. Agora, calma, tá?

Francamente, não sei, mas acho que se o tempo e a energia gastos no twitter fossem aplicados na fabricação de cestos de palha, tigelas de barro e bonecas de pano teríamos uma sociedade, não mais rica, mas, certamente, mais feliz.
No fundo, no fundo, talvez tudo isto não passe de uma grande inveja minha.
De qualquer modo, como vou pro inferno mesmo, deixem-me falar mal dos outros enquanto estou vivo.
Luigi

4 comentários:

  1. Caríssimo Severino
    Não imagina como me identifico com suas palavras!!! Para mim é completamente impossível compreender o interesse que este tipo de observação/noticia/comentátio, sei lá, possa despertar em quem quer que seja! Não estou nem um pouco a fim de saber o que gente que não conheço (pessoalmente) pensa sobre assuntos tão relevantes como copa do mundo, Kaká e cia. Sinceramente, acho que a vida dos twiteiros deve ser muito desinteressante - a vida real, quero dizer. Não tenho interesse e muito menos tempo para gastar com esse papo furado. Por que essa galera não vai ao cinema, ler um livro, tomar chope com amigos ou, na falta de coisa melhor, dormir um pouco? També posso oferecer roupa para passar, uma faxininha, sei lá! até isso é mais útil do que falar besteira com gente desconhecida.
    Esse posso assinar como eu quiser: tio Vavá, Noronha, Monica, a opinião é a mesma.
    beijo
    Eu

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  2. Severino,
    Na verdade o que se esconde por tráz disso tudo é uma ânsia de falar, falar e falar... Todo mundo tem alguma coisa para opinar mesmo que não leve a lugar nenhum.
    Mal do século, efeito dos Prozacs indiscriminados que andam receitando por aí.

    Muito bom texto, você observou com sabedoria e escreveu com propriedade.

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  3. Prezados Severino Mandacaru, Noronha e Sra. do Bontempo. Vejo que mais uma vez vou ter que discordar dos três.
    Severino, não ficou claro se a crônica era para falar mal do tweeter ou da cronista Córa Rónai.

    Até que se o sr quiSesse falar mal da cronista eu poderia concordar. Pois além do mau gosto que tem para divertir-se: Tweetando. Ela como cronista escreve muito mal. Não venha culpar o assunto escolhido pelas mal traçadas linhas da senhora? Rónai.
    Para um bom cronista qualquer assunto pode resultar num texto interessante. Basta que o autor escreva razoavelmente bem. O que não é o caso da Sra Rónai.
    Meninas: Não vejo mal nenhum que o cerumano(sic) se divirta com o tweeter ou com qualquer outra coisa. Tem gente que gosta de cortar bambu, outros de ver filme francês, alguns de jogar campo minado e uns infelizes de discordar dos próprios amigos.Beijos e até amanhã

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  4. Êpa !
    Eu sou o cerumano que gosta de ver Filme francês !

    = )

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