sábado, 17 de julho de 2010

Um Vício que é Amor




                                                                                    Claudia Bontempo

Juarez foi abandonado pelo grande amor de sua vida. Depois de alguns anos envolvido e apaixonado pela mulher de um rico empresário, que conheceu na academia em que ambos faziam ginástica, descobriu com pesar que o amor não supera o conforto que o dinheiro pode proporcionar. Mesmo sob as juras de eterno amor que a bela lhe proferiu, foi jogado para escanteio. Na lata.

Desceu do BMW dela, revestido com acentos de couro e direção automática, com um rolo de papel higiênico, que ela carinhosamente lhe ofertou para que enxugasse as lágrimas que escorriam sem cessar pela face, numa noite chuvosa e friorenta. Entrou imediatamente num boteco e pediu duas doses de vodca,  quando perguntado pelo garçom se comeria alguma coisa, respondeu que não. Apenas beberia, pois queria ficar de pileque em homenagem a sua amada. Duas horas depois, Juarez e o garçom rodeados de copos de vodcas e rodelas de laranjas de aperitivo, falavam da alegria de se viver um grande amor. Repetiam, sem atentarem para o clichê, a frase do Poetinha ;-“ Que não seja imortal posto que é chama, mas que seja infinito enquanto dure !” e contorciam-se em gargalhadas.

Mesmo quando pediu a conta a dura realidade não lhe atormentou. Arrancou do bolso um punhado de dinheiro amassado e pagou, sem ligar se iria ficar devendo a conta da luz do pequeno apartamento em que morava. Saiu trocando as pernas,  escorando-se nos muros que encontrava , mas achando que valera a pena se embriagar de amor, ainda que pela mulher de outro.

No meio do caminho resolveu fazer “um quatro” para ver “em quantas estava” e pela satisfação de  sentir-se um ébrio da paixão . Tropeçou no cadarço do tênis que estava desamarrado e deu com o nariz no chão. Levantou-se, ajudado por um transeunte que levou de imediato um abraço e um beijo afetuoso de agradecimento. Com muito custo conseguiu achar o caminho de casa. Deitou de roupa e tudo na cama e ligou para a ex, que não atendeu ao telefone. Sem noção do que escrevia, encheu a caixa postal dela de torpedos apaixonados dizendo que morreria de amor quantos vezes precisasse, simplesmente pela alegria de poder amar e amar de novo. Até que adormeceu.

No dia seguinte, Juarez acordou no meio de um sonho em que bebia toda a água de um rio, tal a sede que estava, enquanto alguém martelava o seu cocoruco com uma enxada, tal a dor de cabeça que tinha. As calças arreadas até o joelhos, não se sabe por que, enquanto o celular jazia ao seu lado cansado do trabalho árduo da noite anterior. O lençol sujo de sangue do nariz que arrebentara ao se esborrachar no chão.

Mas o pobre homem achou que isso tudo era não era nada, perto da tristeza que sentia por  ter perdido para sempre o seu grande amor.  Decididamente, a euforia causada pela vodca fora para o espaço. Amar e não ser amado não tinha graça nenhuma.

5 comentários:

  1. Adorei! Pobre do Juarez e de todos os que amam e não são amados e pobre dos que acordam para a realidade depois de umas muitas doses de vodca! Sds da amiga Paçoca

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  2. Claudia
    Gostei muito do contraponto que você fez com o título da crônica da Mônica. Está divertido. A sua narração, vivaz, prende o leitor pelo tratamento original que você dá à clássica história: amor-desapontamento-dor-bebida-euforia-dor. Seria interessante se você também escrevesse a mesma história dando um final diferente, isto é, em lugar de fazer o personagem voltar a sofrer pelo amor perdido, fazer com que a bebedeira apagasse toda a memória e o levasse a uma reabilitação numa nova aventura. Claro que seriam duas histórias para o mesmo tema e não uma história refeita. Que acha?
    Luigi

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  3. Queridos amigos,
    Obrigada pelos comentários.
    Vou aproveitar a sugestão do meu querido mestre, no entanto só quando voltar dos Bons Ares e depois de ter Visto os Montes...
    Quanto a próxima reunião, estarei presente em pensamento e muito saudosa de vocês.
    Aproveitem bastante.

    Beijos para todos.

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  4. Também adorei a estória. Mas não concordo com o Luigi não. Porre não cura dor de corno, só funciona assim como uma espécie de analgésico. Exatamente como a overdose de vodkas do Juarez.
    A achei muito legal a idéia de escrever uma estória em cima de outra, é um exercício interessante.
    beijo e boa viagem.
    Monica

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  5. Pois é Moniquinha,
    A idéia surgiu quando eu tentava e tentava fazer o exercício de casa que era reescrever o conto do Luigi, O Presente de Casamento.
    Pensei em escrever pelo lado da moça, mas não consegui. Então, ao reler o seu conto, esse aí de cima foi saindo... Gostei também do exercício.

    Beijinhos.

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