Aprendi com Lena Jesus Ponte, diáfana poetisa do haicai, a apreciar essa forma de poesia que rejeita a individualidade, despe-se da moralidade e da intelectualidade e glorifica a solidão. Lena é um haicai na sua forma física, transparente, emanando uma luz que envolve as pessoas ao seu redor e as transforma em poesia.
Nas frequentes viagens ao Japão eu tentara penetrar naqueles versos sintéticos, lidos em tradução para o inglês, sem conseguir captar-lhes a alma. Logo entendi, em discussões com japoneses, que não era só a deterioração causada pela tradução que me impedia de captar-lhe o verdadeiro sentido poético mas também porque, como explica Cecília Meireles, “na sua concisão eles evocam, para os japoneses, sugestões que o Ocidente em geral não consegue captar”. Nas aulas de Lena Pontes consegui penetrar um pouco mais no mundo mágico do haicai.
Quando, em uma das aulas, Lena mencionou o nome de Oldegar Vieira entre os poetas brasileiros precursores do haicai, dei um pulo na cadeira. Oldegar Vieira havia sido meu professor de português na Escola Técnica em 1949. Oldegar acabava de publicar seu primeiro livro “Folhas de Chá” e, vez por outra recitava em classe seus haicais. Lembro-me bem de alguns, até hoje:
Noite de Natal
Neve na vitrine
Lágrimas nos olhos
Do menino pobre
Alvorada
Pouco a pouco vai
O canto claro do galos
Clareando o dia
Pôr de Sol
Na tela do firmamento
O sol, pintor desastrado,
Derramou suas tintas
Pouca importância demos ao livro do Oldegar. Éramos jovens, imaturos e irreverentes. Certo dia um colega mais gaiato escreveu no quadro negro:
“Próximo lançamento do Professor Oldegar Vieira: Pó de Café”. O professor leu a frase e, longe de ofender-se, dando uma risada disse:
-- Vocês estão convidados. Espero que comprem o livro.
A neblina da serra induz à reflexão e a reflexão nos torna poetas. Pena que a neblina não nos dá a habilidade para escrever. De qualquer forma aqui vão meus destemperos:
No ouvido das folhas
Depositei meu segredo
Morrerei sem medo
Sobre um galho seco
Um passarinho canta
Que a vida se foi
Pensa e conclui
O cérebro da floresta:
O homem não presta
Senilidade
Apenas senilidade
Senilidade
Um dia serás planta
Carregada de sonhos
Que um dia cairão
Tristeza de inverno
Senta-te aqui ao meu lado
Finge que é verão
Depositei meu segredo
Morrerei sem medo
Sobre um galho seco
Um passarinho canta
Que a vida se foi
Pensa e conclui
O cérebro da floresta:
O homem não presta
Senilidade
Apenas senilidade
Senilidade
Um dia serás planta
Carregada de sonhos
Que um dia cairão
Tristeza de inverno
Senta-te aqui ao meu lado
Finge que é verão
Luigi Spreafico
Que lindo!
ResponderExcluirJá que ninguém comenta, vou ficar comentando até alguém se manifestar!
ResponderExcluirOs que mais gostei foram: Tristeza de inverno e No ouvido das folhas.
Luigi, adorei os haicai, faça mais!
Vejo que o seu tempo é generoso, quero dizer, o tempo é generoso com você. Pois que depreendo da sua crônica que você leva horas e horas para escrever um poeminha com somente 17 sílabas, nenhuma a mais, nenhuma a menos. Não me furto ao comentário que você tanto implora na sua falecida crônica (que os ventos a levem) “De Aplausos e de Vaias”. Mas como o meu tempo é precioso limitei-me a tirar de lá – como você sugere - um daqueles comentários pré-fabricados, novinho em folha. Foi só copiar e colar:
ResponderExcluir“Fui induzido a ler os seus Haicais. Comparo o suplício a que fui submetido ao de uma galinha condenada a bicar micro-partículas de fubá em lugar de grãos de milho.”
Passe bem.
Vejo que o seu tempo é generoso, quero dizer, o tempo é generoso com você. Pois que depreendo da sua crônica que você leva horas e horas para escrever um poeminha com somente 17 sílabas, nenhuma a mais, nenhuma a menos. Não me furto ao comentário que você tanto implora na sua falecida crônica (que os ventos a levem) “De Aplausos e de Vaias”. Mas como o meu tempo é precioso limitei-me a tirar de lá – como você sugere - um daqueles comentários pré-fabricados, novinho em folha. Foi só copiar e colar:
ResponderExcluir“Fui induzido a ler os seus Haicais. Comparo o suplício a que fui submetido ao de uma galinha condenada a bicar micro-partículas de fubá em lugar de grãos de milho.”
Passe bem.
Caro Anônimo,
ResponderExcluirVejo que você nunca deixou de participar de nosso blog. Apenas retirou-se na surdina para ficar nos espreitando. Com certeza morrendo de inveja.
Uma pena !
Fique sabendo que a amizade que úne os participantes deste blog é invejável mesmo, e por isso até compreendo o seu despeito pelo "nosso" Luigi.
Sugiro que procure algo melhor para passar o seu triste e solitário precioso tempo, pois deve ser muito ruim viver à sombra da nossa alegria.
A propósito. Você continua um chato !
ResponderExcluirDona Cráudia, vc não perde esta mania de vingancinha! Mas este anonimo bem que mereceu, onde já se viu falar dos hai kai do nosso querido mestre? Ao menos se ele tivesse feito em forma de poesia teria sido mais elegante!
ResponderExcluirFicou lindo une com acento no u, nunca tinha visto!
Ops, que vingacinha mais desastrada. Este acento no u foi uma derrota... ai, ai...
ResponderExcluirbeijos envergonhados
Severino Porraloca,
ResponderExcluirQue no mundo não faz falta,
Não sabe calar a boca
Nem fazer rima com falta.
Por ser metido a poeta
Vai levar um pé na bunda
Mais parece uma agapeta
Na sua vida vagabunda
Claudia, colega querida:
ResponderExcluirNão se amofine tanto com as ofensas toscas do nosso anônimo colaborador. Afinal ele, que deve ser um grande impostor, pode estar sendo vítima de outro grande impostor ou, simplesmente, inspirando-se no velho Severino.
Aceite meu conselho:
Não faça disso querela
Anônimo não tem vida
Este que você escalpela
É só uma alma perdida
Com o reconhecimento pela bravura com que você brandiu armas na defesa dos nossos ideais, seu admirador de sempre
Luigi
Meu caro anônimo
ResponderExcluirNão sei se percebeu, mas pisou em terreno privado. Como bem escrito no título deste texto: Haicai para uso interno. Não o/a convidamos a participar do blog, não estamos interessados em sua opinião sobre nossos texto, não é bem vindo(a) aos nossos encontros, seja pessoalmente, seja no blog. Somos um grupo de quatro amigos que se reune para escrever e beber vinho, e nos bastamos assim. Só permitimos que o blog seja público porque temos companheiros e companheiras, além de amigos e de amigas que, por afeto, têm prazer em acompanhar nosso passatempo.
Você entrou no blog porque quis, leu nossos textos porque quis e, se não gostou, poderia ter com um único click poupado nosso precioso tempo. O seu, abstendo-se de acessar nosso blog, de ler nossos textos e de escrever seus comentários grosseiros. E o nosso, poupando-nos de ler os referidos comentários e de escrever outros em resposta, como faço agora.
Não é bem vindo (ou bem vinda) no nosso blog, se quer saber. Não gostamos de grosserias e eu, particularmente, não gosto de gente covarde. É fácil ser grosseiro sem assinar o nome nem mostra a cara, e o mundo virtual está cheio de gente assim. Então, por favor, retire-se, a porta está aberta.
Monica Pinto
Meu próximo texto será: O aprendiz de embusteiro!
ResponderExcluirMe aguarde!!!!!!
Monica