quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Dever de Casa: Escrever

“Escrever” continua atual. Depois que o Severino simulou um ataque de demência por achar que, devido ao que já se publicou e se continua publicando não sobrariam leitores para ele, aparece no Segundo Caderno do “O Globo”, uma coluna de Francisco Bosco com, exatamente, esse título: Escrever.

Logo depois do destempero do Severino, Mônica Noronha tratou desse tema com seriedade explicando como e por que escreve. Debatendo-se entre o prazer da escrita e as obrigações que lhe são impostas pela profissão que exerce, Mônica dá uma importância elevada à contraposição publicações/ leitores, resigna-se por não poder escrever tudo o que gostaria , e encerra o assunto: “Então, que venha o possível”. Decisão sensata.

Na sua coluna Francisco Bosco cita o filósofo Giorgio Agamben: "Escrevemos para nos tornarmos impessoais".  Bosco explica: “Segundo o filósofo, cada sujeito é formado por duas dimensões, uma pessoal, outra impessoal. A pessoal é o Eu, a consciência, a identidade; o que em nós é constituído, sabido, reconhecido. A parte impessoal é o que, “em nós supera e excede”, é o que nos revela “que nós somos mais e menos do que nós mesmos”, é uma “zona de não conhecimento” em nós mesmos”. Depois de estender-se numa longa e detalhada interpretação das palavras do filósofo, Bosco conclui: “Para mim, é por isso que se escreve, ou, ao menos, é por isso que escrevo: para transcender os limites tediosos neuróticos do meu ser”.

Nunca pensei que fosse tão complicado.

Severino Mandacaru, por exemplo, que só ficava neurótico quando faltava cerveja, escrevia a seu modo – não precisava de papel – , cantando na praça de Glória de Goitá:


Eu canto, eu faço verso
Eu canto até mi sguelá
Eu rimo no desafio
Acompanho no ganzá
Eu canto gloza e repente
E galope à beira mar ...


Moço distinto se chegue
Meu canto é pra si escutá
Mostre que tem coração
Ajude um pobre a cantá
Tire do bolso um trocado
E bote no meu borná ...

Severino tinha suas razões. A vida dura na caatinga não lhe permitia maiores elocuções.
Creio que chegou a hora de dizer por que escrevo. E vou ser sincero:

Escrevo para me exibir. Para receber aplausos e vaias. Escrevo no centro de um palco, como um ator. Curvo-me em agradecimentos quando me aplaudem. Cubro o rosto quando me vaiam.

Escrevo para ser lido. Fico alegre quando descubro que alguém me leu. Não são muitos: Um colega aqui, um amigo ali. Um primo, um cunhado, um sobrinho e um neto. E eu mesmo.

Escrevo porque gosto de ler. Como leitor, quero saber o que penso. Se não escrever, não posso ler-me. Leio como qualquer leitor, fora do palco. Quando gosto, rio muito e aplaudo. Quando não gosto, vaio e rasgo tudo.

Escrevo porque vivi. E vivi bem. Não sei inventar histórias. Escrevo o que vivo.

Escrevo ... porque gosto. E tenho papel e lápis.



Luigi Spreafico

Um comentário:

  1. No melhor estilo Severino Mandacaru. Estava com saudades dos escritos do mestre.
    Ei onde foi todo mundo?
    Luigi, você escreve bonito, eu gosto de ler, mesmo que não seja folheando as páginas de um livro, meu esporte predileto.Beijos aos sumidos da Paçoca de sempre!

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