segunda-feira, 26 de julho de 2010

De Almendrados e Medialunas


RÉQUIEM PARA OS AUSENTES

Soneto naif para uso interno

Bem feito! Quem mandou sair
Quando tudo era perfeito?
Sair pra que? Pra isso?
Comer bife de chorizo,

Medialunas e almendrados?
E nós, mortais abandonados,
Farejando a mesa como moscas
Condenados a comer roscas toscas!

Se assim é, que assim seja.
- Vamos vingar-nos, traz cerveja,
Disse uma , - e bebamos, sem que ela veja.

Perfeito, disse o outro,
- Tenho aqui o que nos falta:
Inveja, soberba, e a língua solta.



E foi assim que os que ficaram resolveram promover um jantar de desagravo. Olhando bem o que estavam fazendo era apenas esconder a saudade que os abate sempre que alguém se evade dos trabalhos depois da oficina.
Reunidos no templo gastronômico do Botafogo, sob a luz argêntea de uma lua complacente, os não evadidos discutiram o menu: o prato principal seria o pão, tema do dever de casa. Como acompanhamento um Pinot Noir da Patagonia – Reserva 2006, que foi seguido por dois outros rótulos de maior distinção cujos nomes não vou mencionar aqui para não despertar cobiça.
A sobremesa coroaria a nossa vingança com um almendrado, iguaria que os ausentes foram degustar nas planícies portenhas, em porções contidas, enquanto que a nossa seria servida de cambulhada.

Tudo saiu como planejado. Quem pesava e quem media, quem limpava e quem mexia, entre alaridos e gargalhadas, um bando de crianças.
Tudo pronto, iniciou-se a manducação, entre suspiros e ais. E ali ficamos até horas tardas, deixando-nos embriagar pelo perfume do pão e lambendo o almendrado.
Só para fazer inveja.

Severino Mandacaru


4 comentários:

  1. Prezado Mestre,
    ficou muito bom! Não tenho ressalvas. Mas tenho filmes e fotografias feitas pela Monica. Coloco tudo para ilustrar ou você vai querer censurar?
    Pense rápido a Sra do Bontempo vem chegando!
    Miranda

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  2. Cara Paçoca
    Ilustre tudo. Censura nem pensar. Será uma honra ter a matéria enriquecida pelas iluminuras da Deusa do Templo Gastronômico.
    Severino

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  3. Severino Mandacaru, quanta inspiração!!! A culpa é de nossas iguarias e do vinho. Quem foi perdeu! Eu é que não falto às reuniões. Depois de ler seu texto até mudei de idéia, amanhã a gente se encontra. Onde?
    Saudações gastronômica
    Noronha

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  4. Pois é, Mônica. O vinho nos torna coetâneos. "In vino veritas"
    Severino

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