sexta-feira, 21 de maio de 2010

UMA FLOR PARA MINHA MÃE

Memórias. Sempre memórias. Para que servem? Por que as contamos? Para quem as contamos? Se eu tivesse resposta para essas perguntas, eu jamais as escreveria. Memórias! Com algumas nos sentimos glorificados. Com outras, envergonhados. Muitas nos rejuvenescem - Picasso dizia que “levamos muito tempo para ficar jovens” - Outras apenas nos mostram o peso da senilidade. Contamos verdades.
E quem acredita nelas?
Eu não havia ainda completado os sete anos de idade quando caminhava com minha mãe pela calçada da Avenida Guilherme Cotching, na Vila Maria, na pequena metrópole que era a cidade de São Paulo daquela época. A avenida está lá até hoje, com o mesmo nome ridículo. Minha mãe caminhava com rapidez . Em dado momento, vendo que eu me atrasava, deteve-se e, virando-se para mim, fulminou-me com seu olhar meigo:
-- Anda depressa, filho!
Nesse exato momento, a um passo do lugar onde ela se detivera, e na mesma direção, desabou um enorme vaso de barro, espatifando-se no chão, espalhando terra e margaridas por todos os lados.
Minha mãe passou o resto da vida contando que a minha preguiça lhe salvara a vida.
Severino Mandacaru

3 comentários:

  1. Que delícia! Welcome back querido Severino Mandacarú. Gostei em especial do contraste: "fulminou-me com seu olhar meigo".
    Acho que esta poderia chamar-se também: Bem está o que bem acaba!

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  2. Yes, concordo com a Paçoca. Ou poderia ser: Severido, o prtegido de Deus! Um dos nomes bíblics não significa isto?

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