Quero contar os amores que vivi e os amores que perdi.
Quero contar as dores que sofri e os males que causei.
Quero contar de vales e cordilheiras por onde andei.
Quero contar de lagos e montanhas onde nasci.
Quero falar das árvores que plantei, dos filhos que criei e dos livros que não escrevi.
Quero contar as desventuras por que passei nos mares que singrei e nos ares que cruzei.
Quero contar como é dura a vida na caatinga, a pele calcinada pelo sol, o olhar de angústia na criança faminta, o riso amargo saindo das rugas do velho desamparado.
Quero contar o pôr do sol no São Francisco, o brilho da lua cheia no Capibaribe, o verde cristalino do mar além dos arrecifes.
Quero falar dos vinhos que bebi e da sede que sofri.
Quero contar como ressoa o apito da fábrica, como estala a batida intermitente do tear e como ecoa a voz alegre da tecelã.
Quero contar como vivem as almas penadas dos insetos assassinados nos campos de lavoura.
Quero contar fábulas. Para dizer cobras e lagartos, engolir sapos, desvendar o segredo da aranha, cantar como a cigarra, ser astuto como a raposa, ágil e faceiro como o serelepe, vaidoso como o pavão. E beber como um gambá.
Tudo isso quero contar. E antes que os tempos acabem, quero deixar pronto o meu epitáfio, que contará:
“Aqui jaz aquele que pouco contou.
Porque o que contou era verdade. E ninguém acreditou.
Aqui jaz aquele que sofreu a angústia de não saber contar
tudo aquilo que queria contar”.
Severino
Querido Severino,
ResponderExcluiradorei! Que bom que alguém inspirado e verdadeiro apareceu para dar vida ao nosso blog.Queria que as palavras me amassem com te amam para poder fazer um comentário a altura deste belo texto! By the way: a paçoca entendeu tudo!
Oi! sou eu de novo! Queria dizer que o texto passa verdade quando consegue passar a emoção de quem escreveu! E o Severino é mestre nisso.
ResponderExcluirSó tenho uma ressalva ao texto! Não repetiria a palavra vivi em tão pouco espaço.
Querido Mestre,
ResponderExcluirAh a angústia dos escritores que procuram as palavras para traduzirem os sentimentos !
Um belo relato desta busca constante, que nunca se acaba. Que palavras escolher ?
Divino ! Coisa de Mestre.
Beijos
Obrigado, Paçoca. Fiz a correção no "vivi". Também dei um retoque no título.
ResponderExcluirLindo, Luigi, de verdade
ResponderExcluirAcho que ter o que contar mostra o quanto se está vivo e integrado ao mundo!
E faz com que eu me sinta culpada por estar tão distante de escrever, nos últimos tempos.
beijo
Monica
quando falamos verdades ninguém acredita... mas gostam de inventar mentiras sobre nós... ô, vidinha!
ResponderExcluirpouco conta, muito soma, bem faz você.
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