terça-feira, 23 de fevereiro de 2010

O céu é o limite


Auto-estima é a capacidade de sentirmos a vida, estando de bem com ela.


O céu é o limite para quem está disposto a aumentar a auto-estima. Exagero meu, nem o céu é o limite.

Com toda sinceridade eu nem sei muito bem o que é auto-estima. Só sei que nunca ouvi meus pais falarem sobre este assunto. Será assunto tabu, tipo sexo? Quanto mais para trás eu olho, menos eu me lembro, de ouvir alguém falar em melhorar ou piorar a auto-estima. Na minha infância toda não conheci criança que tivesse baixa auto-estima. Será que éramos felizes e não sabíamos? Será que eu tinha ou será que a minha era baixa. Como se mede a auto-estima de um indivíduo?

A mídia nos brinda com cada vez mais produtos para melhorar a nossa auto-estima? Vale tudo: cremes antirrugas, carro do ano, cigarro, tintura para cabelo, bolsa nova, emprego novo, xampu, cueca, lingerie, refrigerante light, pão sem glúten.

Andei pesquisando o que é autoestima (que agora perdeu o hífen, só espero que não tenha perdido a própria). Uma das conclusões a que cheguei foi que para ter autoestima é preciso ser magro e na impossibilidade de ter um corpinho seco e malhado, ser um gordo feliz. Pelo menos a maioria dos produtos direcionados aos gordos , prometem melhorar a autoestima (não aguento mais repetir este nome, será que não tem um sinônimo para esta bendita palavra?).

Moro num bairro de verdade. No meu bairro tem padaria, bar, açougue, banco, mercadinho, supermercado, birosca, igreja, posto. No meu bairro tem de tudo. Até coisa moderna. Tem lan house, pet shop, hortifruti, 2 centros culturais, 3 shoppings, inúmeros cafés, além de muitos cinemas “plex”.

Quando estou me sentindo um pouco triste, saio às compras. O que na verdade uso como pretexto para uma voltinha pelo bairro. Arrumo o cabelo bem bonito, esticado e preso atrás num rabo de cavalo. Uso vestido florido, para espantar a tristeza e esconder as vergonhas. Na boca baton rosa claro, discreto, sandália rasteirinha nos pés e minha inseparável sacola “eco”.

O elevador pára, no sétimo andar, e entra minha vizinha do 703. Dona Iolanda tem sempre um elogio para mim. Já falou do meu corte de cabelo, do tom da minha voz, da minha pele, outro dia elogiou meu colo! Hoje, falou do tom do esmalte, que cai muito bem com meu tom de pele! Sempre que o elevador para no sétimo andar, uma sensação de paz me invade. Sei que dona Iolanda vai estar com um sorriso no rosto e vai me falar algo agradável, por mais simples que seja.
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Na portaria seu Mineiro, o porteiro da noite, me aguarda ansioso com uma muda de camomila, nas mãos, há muito prometida.

-Um quilo de patinho por favor!

- Há quanto tempo não a vejo dona Liz, pensei que tivesse virado vegetariana! Seu Agenor, o açougueiro elogia meu vestido florido. Troco dois dedos de prosa com ele. A família vai bem, a senhora dele, embora fazendo hemodiálise, tudo bem!

Na praça, o vizinho, do prédio ao lado, leva a cachorrinha poodle para tomar sol. Quando me vê, abre um largo sorriso.

Usando a camisa do nosso time que levou uma surra no domingo. Acena para mim e grita parecendo não se importar com a derrota.

- Saudações tricolores!

E, assim, um dia após o outro, vamos vivendo e envelhecendo cordialmente.

E a autoestima? O leitor me pergunta. Sei lá, não penso nisso, vou vivendo do jeito que dá.

7 comentários:

  1. Sempre tão avoada com a "janta", esqueceu de assinar, mas já conheço o jeitinho da Paçoca falar da vida.
    Texto bonito, que me fez refletir sobre o valor das pequenas elegâncias que passeiam pelo nosso cotidiano.
    Pensei que o sinônimo que procurava, talvez fosse bem viver. Aliás, acho que há muito tempo atrás, autoestima era bem viver, que tem uma idéia de reciprocidade.
    Com a era do egos insuflados, virou autoestima, como se os outros não fossem a parte mais importante do nosso bem viver.
    Tenho muito momentos de recolhimento, que prezo e que cultivo,mas eles nunca aumentam minha autoestima. Reflito, coloco algumas idéias no lugar, choro um pouco e outras coisinhas mais.

    Porém, nada como um elogio por algo que eu faça, uma ida na feira livre, quando os feirantes me chamam de princesa,ou mesmo colocar um vestido bonito e me sentir desejada, para elevar minha autoestima. Ou para cultuar o meu bem viver.

    Sua admiradora de sempre,
    Beijos bem vividos,

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  2. Cláudia,seu comentário vale uma crônica. Beijos emocionados da Paçoca.

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  3. Paçoquita
    Antes de dizer que gostei do seu texto, posso fazer um comentário? Acho que tem alguns erros de pontuação, coisa boba, esqueceu de colocar ponto de interrogação, essas coisas.
    Sinônimo para auto estima? Caramba, li a crônica de tarde e não fiz comentário nenhum porque fiquei matutando que diabos pode substituir a palavra auto estima. Concordo plenamente que nos tempos modernos virou sinônimo de corpo desejável, o que necessariamente implica no olhar da outra pessoa para a gente, quando na verdade deveria ser "de dentro para fora", digamos assim. Talvez aí esteja uma definição, se sentir bem independentemente do olhar do outro. Mas isso vai na direção oposta ao que a Claudinha falou, e para mim o afeto das pessoas que eu gosto também é fundamental. Só que elas não estão preocupadas com o exterior e sim comigo, certo? Então talvez continue valendo achar que auto esima tem a ver com não precisar da opinião dos outros, excluindo daí quem a gente ama....
    Que barafunda você criou!!!!
    Bela crônica, belo tema.
    S. M. Noronha (com mais umas três oficinas vou ficar com nome de princesa)

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  4. Cara Paçoca
    Achei sua crônica excelente porque narra de maneira fluente e sem circunlóquios cenas que vivemos no dia a dia de uma cidade grande, A partir da postulação do sentimento de autoestima você consegue desenvolver o tema para concluir, sabiamente, que a solução está dentro de nós mesmos. Como você diz: “não penso nisso, vou vivendo do jeito que dá” . Pois não serão os produtos oferecidos pelo mercado nem os livros de autoajuda que irão resolver o problema.
    Agora, sem querer meter-me na sua vida nem aventurar-me a psicólogo
    Gostaria de dar alguns palpites:
    1 - Todos, - e não só “a maioria” – os produtos a que você se refere prometem melhorar a sua autoestima. Todos os fabricantes querem vender seus produtos.
    2 – Sair às compras quando está triste vai lhe deixar alegre durante o tempo das compras. No dia seguinte você estará mais triste ainda.
    3 – As Donas Iolanda são muito importantes na vida da gente. Elas afagam o nosso ego. Conheço muitas delas. Ouça-as com reserva. Com o tempo elas se tornam profissionais, sempre com a melhor das intenções. Não deixe de conferir os elogios com os seus amigos.
    4 – Ser gordinho não é um defeito desde que o gordinho aceite essa condição e não se torne um eterno carpidor. Eu digo sempre:
    “É melhor ser um gordinho alegre do que um magro rabujento”.
    Desculpe-me se me estendi e perdoa a presunção. “Absit injuria verbis”.
    Seu admirador
    Severino Canabrava

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  5. Prezados Colegas Severino M. Canabrava, e Monica N. Salomé,
    Obrigada pelos comentários, vocês e a Cláudia me fizeram refletir mais sobre o assunto do que quando escrevi a crônica. Vocês são pessoas muito bacanas.
    Moniquinha, você tocou no meu ponto fraco pontuação, costumo dizer que salgo minhas comidas como pontuo meus textos, as vezes um pouco mais outras um pouco menos.
    Severino, as vezes, só as vezes, minhas crônicas tem um pouco de mim e a Dona Iolanda a que me refiro, é só uma homenagem a uma vizinha querida que se foi ano passado. Confesso que quando estou tristinha, ainda tenho vontade de encontrá-la no elevador.

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  6. Estou com crise de identidade!!!!

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