domingo, 7 de março de 2010

POUSADA PARAÍSO

Tendo em vista o sucesso alcançado com a crônica “Meu Sítio, meu Paraíso”, juntei-me a um grupo de beduínos e criamos a Pousada correspondente, que oferecerá aos colegas o lugar ideal para o seu descanso de fim de semana.

A vida nas grandes cidades está levando o ser humano a um desgaste físico e emocional sem precedentes. A insalubridade pela contaminação do ar, o barulho do trânsito, as sirenes e alarmes de todo o tipo, a dependência da televisão com seu noticiário estressante ou novelas lacrimogêneas e programas deformadores de comportamento, a alimentação baseada em produtos refinados repletos de gorduras saturadas, conservantes e aditivos químicos de toda a espécie, são apenas alguns dos fatores que estão afetando a qualidade de nossas vidas e, pior, a vida de nossos filhos. Para fugir a esses efeitos muitas pessoas procuram sair da cidade grande, nos fins de semana, em busca de um hotel fazenda para descansar e distrair a criançada.
Para isso criamos a “Pousada Meu Sítio Meu Paraíso”

Você já visualizou um lindo lugar com vaquinhas pastando, porquinhos fazendo honk... honk... crianças alegres e ruidosas jogando totó, longos passeios de charrete, lago com pedalinho, quadra poliesportiva, sala de jogos e um enorme salão para o Buffet self service com 54 tipos de comida. Pois nós não temos nada disso. Porque é de um lugar assim que você volta ainda mais estressado.

Ao criar a “Pousada Meu Sítio meu Paraíso” no local que você já conhece, palco de tão ricas experiências, queremos lhe proporcionar um lugar que permita retomar o contato com a natureza, reeducar seus hábitos alimentares e refazer as energias físicas e mentais para a sua volta ao trabalho.
Este é um lugar diferente. Para começar, você não precisa acordar às seis horas da manhã para assistir a ordenha das vacas. Nós não temos vacas. Você pode acordar à hora que quiser, tomar café à hora que quiser e ficar na cama ouvindo o canto dos pássaros.
Nós não temos charrete, nem passeio a cavalo. Nós preferimos caminhar com nossas próprias pernas para exercitar o corpo e a mente.
Nós não temos quadra poliesportiva. Nós pisamos na grama descalços para restaurar o contato com a terra perdido há anos, colhemos ervas aromáticas em nossa horta, conversamos e rimos o tempo todo, um riso espontâneo e sadio, resgatando um relacionamento humano já esquecido.
Nós não temos salão de jogos com sinuca, totó e ping-pong para você passar o tempo depois do almoço. Depois do almoço nós nos reunimos para um bate papo agradável, com troca de experiências ou simplesmente tiramos um bom e restaurador cochilo embalados pelo canto dos sabiás.
Nós não temos self service com 54 tipos de comida ao qual você chega, disciplinadamente, em fila, torcendo para que as bandejas não se esgotem antes de você chegar lá e, lá chegando, comer o máximo que pode, estragando sua saúde, só para justificar o seu investimento. Nós lhe oferecemos um cardápio perfeitamente ajustado às suas necessidades, servido sobre toalhas brancas de puro algodão e com luz abundante para que você possa ver e degustar com tranqüilidade o que está comendo.
Nós não temos shows de música ao vivo. Para você ter uma idéia nós não temos nem televisão nos quartos! Depois do jantar nós nos sentamos em volta da lareira para degustar um bom vinho ou projetamos um filme com um tema instigante, que será sucedido por um debate, visando melhorar o nosso comportamento diante dos conflitos quotidianos.
Aqui, sim, você vai descansar. Bom fim de semana para todos.
Luigi Spreafico

12 comentários:

  1. Prezado Senhor Luigi, proprietário de tão encantador sítio e dono de palavras tão apaixonadas. Solicito que faça minha reserva para todos os próximos finais de semana de 2010. Caso não tenha quarto ou cama disponível pode deixar reservado um espaço para pendurar redes. As redes eu levo, não precisa se preocupar. Posso levar ainda o bom papo e alguns filmes estranhos para debatermos.
    Posso levar ainda, alguns discos do Pink Floyd e Led Zeppelin, para quando cansarmos do canto dos sábias. Se não gostar, posso ainda levar Chet Baker para chorarmos as tristezas da vida ao som de seu sax.
    Não deixe de passar o mapa de chegada ao sitio e se prepare, estou levando junto os meus 13 filhos, 3 maridos, 2 sogras, 3 sogros, além da minha mãe e pai. Os cães vira latas vou deixar por aqui, acho que ai você já deve ter alguns.
    Até nosso próximo encontro.
    Roseana, Eu, Epamineuda

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  2. Meu querido Mestre
    Mas agora sim, as palavras estão adequadas a um texto de humor.
    Sabia que as nossas reuniões vão muito além das cervejinhas e Coca-Colas e da desgustação de acepípes variados !
    Pronto, aí está. Ironia e palavras que remetem ao humor. Está encontrando a fórmula.
    Porquinhos fazendo honk, honk ????? Produtos refinados repletos de gordura saturada ????
    Hilário, mas percebo que ao mesmo tempo já nos dá pistas da ironia. Não acha ?
    Tenho um belo texto, do livro Para Ler Como um Escritor, de Francine Prose, que fala algo sobre isso. Na próxima reunião em que eu estiver vou apresentá-lo a galera.
    Beijos

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  3. Prezado Mestre,
    sabia que a pousada que eu estava procurando existia mesmo! Mas confesso que nâo consegui dormir imaginando qual filme seja tão instigante que mereça um debate visando melhorar o nosso comportamento diante dos conflitos cotidianos.

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  4. O nosso mundo está doente... você ofereceu uma bela cura.

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  5. Caros colegas
    Como vocês podem ver tomei a liberdade de mudar o nome da crônica.
    O fato é que esta crônica nada tem a ver com "Meu Sítio, Meu Paraíso”, um texto irônico que pretende derrubar o mito do paraíso terreno aquilo que na verdade é apenas uma fonte de prejuízo.
    Notei que o vínculo entre os dois títulos confunde o leitor, o qual é induzido a nivelar as duas crônicas em termos de conceitos. Na, agora, “Pousada Paraíso” eu pretendo, ainda que toscamente, propor um novo conceito para o repouso e o lazer dentro daquilo que, nos anos 60, era badalado como “vida alternativa”. Conceito este que se contrapõe aos padrões atuais da sociedade mercantilista. A primeira é jocosa. Esta pretende ser séria.
    Agora vocês vão me perguntar: Mas se dá tanto trabalho assim para entender, porque você escreve? Escrevo para ter trabalho. Bom repouso a todos.
    Luigi

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  6. Luigi,
    Como eu ainda não tinha lido, aproveitei para ler a crônica anterior e fazer a comparação.
    As duas são ótimas.
    Quanto às pousadas, gostei mais da segunda.

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  7. Caro Mestre,
    Essa crônica é séria ???????? Ai meus sais ! Este homem ainda me enlouquece !


    PS: Paçoca. não me venha com gracinhas, pois eu comecei a chamá-lo assim primeiro...

    Beijos com azia de um malfadado doce de coco que comi no almoço,

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  8. Prezado Sr. Luigi Spreafico
    É com um grande prazer que redijo estas tão breves linhas, simplesmente para lhe dizer que finalmente encontrei o lugar que procurava para gozar as minhas tão merecidas férias. Sou um senhor de boa reputação, funcionário aposentado dos Correios, que sobrevive humildemente com uma modesta aposentadoria e algumas parcas economias que fiz ao longo dos meus 35 anos de trabalho. Há tempos penso em tirar alguns dias de folga, longe da minha rotina que, aos olhos de quem não possui uma grande família e uma legião de vizinhos, pode parecer desprezível. Não tenho esposa nem filhos, mas nem por isto deixo de conviver diariamente com um monte de problemas. Para piorar, nos últimos tempos passei por algumas dolorosas decepções, que me fizeram perder completamente o bom humor e brigar com as pessoas que me são mais caras. Mas isto são confidências, me desculpe. Sei que, na condição de proprietário de um sítio com tantos encantos, o Sr não tem tempo nem paciência para se preocupar com as lamúrias de um velho aposentado. A razão do meu desabafo é que, pelo anúncio que li na internet, tenho certeza que o é uma pessoa excepcionalmente compreensível e conhecedora da alma humana.
    Mas voltando ao seu sítio. Preciso urgentemente que me mande informações a respeito da hospedagem. Caso suas condições não estejam fora do meu alcance, gostaria de saber quanto exatamente me custaria ficar em seu sítio por umas duas semanas, quiça um mês inteiro. Se não lhe for muito incômodo, pode escrever para o endereço a seguir: tiovavadaportela@gmail.com.
    Atenciosamente
    Valdomiro, seu criado

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  9. Severino Mandacaru: pare de gracinhas! Não vê como é feio se divertir confundindo as pessoas? É óbvio que esta sua segunda crônica não passa de uma vingança macabra contra nós, pobres mulheres, solidárias que fomos com o seu sonho familiar de pousada. Não temos culpa se se deixou contaminar pelo saudosismo na crônica anterior, o que em muito atenuou o tom de ironia que pretende lhe ter dado. Essa sim, é uma pousada a sério. Ora, faça-me o favor! Por vingan;ca distribuí o anúncio do seu "paraíso" para quem encontrei pela frente, e ainda anunciei que daria desconto para quem tivesse mais do que cinco filhos (pelo visto já apareceu pretendente, uma aí que tem 13!). Quero ver agora em que se transforma o seu "paraíso".
    Sem mais, passar bem.
    Samolé
    P": Também espalhei que todas as mulheres que reservarem quartos hoje, dia 8 de março, terão 90% de desconto, pensão completa mais translado.

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  10. 90% de desconto, translado e só?
    não rola uns morenos lindos e maravilhosos para fazer massagens?
    Epamineuda, querendo massagem

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  11. Isso eu ainda não sei, vou ligar de novo e perguntar. Depois te falo.
    Salomé

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  12. Cara Paçoca
    Desculpa-me se só agora atendo ao seu clamor.Vou dar dois exemplos que me ocorrem agora: "As Confissões de Schmidt" (Jack Nicholson) e "Porque Choram os Homens". Reconheço que o meu parágrafo final (com desculpas pelo fofinal)é um tanto pretencioso, Eu quis apenas criar uma frase "impactante". Ninguém é perfeito
    Luigi

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