sexta-feira, 15 de janeiro de 2010


Às Batatas, com Amor.

Tenho algo muito íntimo que nunca confessei a ninguém. Um segredo que achava que levaria para o túmulo. Talvez escrevesse num papelzinho ,confiasse a um parente próximo, que leria e me olharia com ar compungido e agradecido, quando eu lhe falasse que aquilo só deveria ser revelado em meu epitáfio.

Algumas semanas depois de minha morte, quando alguém fosse me visitar o túmulo, descobriria o que guardei a vida inteira. O que nunca tive coragem de admitir.
No dia de finados, as pessoas, que prestassem homenagens aos seus mortos no cemitério, passariam por minha lápide, acenariam com a cabeça, surpresas pela fúria daquela paixão que levei comigo até a hora final, tão discretamente.

No entanto, de uns tempos pra cá, ando muito faceira e com vontade de gritar ao mundo a força dessa paixão, mesmo que me arrependa depois de ter estragado todo esse cenário que imaginara. Não resisto, é algo que está além de mim, resolvi torná-la pública - conto com a admiração do leitor, para que pareça triunfal.

- Adoro Batatas !!!!

Agradeço os “ohs!” entusiasmados que deixaram escapar.

Gosto tanto de batatas, que tenho certeza que minha fixação por Machado de Assis, vem dos primórdios de minha adolescência, quando li em Quincas Borba a expressão;

- Ao vencedor as Batatas !!!

O Bruxo, assim como eu, devia ter lá sua tosca paixão pelas batatas recalcada, e na sua genialidade inventou um romancezinho para respaldá-la. Deu no que deu, mas ninguém me convence de que aquilo, no fundo, no fundo, foi mesmo um desabafo!

Amo-as todas, de qualquer maneira. Incondicionalmente. Salivo à simples menção do seu nome, ou mesmo quando vem acompanhadas de sobrenomes ou escondidas em seus pseudônimos.

Batatas, purês de batatas, batatas palhas, gnochi., noisetes de batatas, batatas rösti, hamburguesa de batatas ....

Dizem que uma pessoa apaixonada não enxerga os defeitos do objeto da paixão,pois minha relação com as batatas é diferente. Sou franca, claro que eu os enxergaria se esta palavra existisse no mundo das Batatas. No entanto, o tubérculo simplesmente, descansa no mundo da perfeição e pronto. Por favor, não citemos mais a palavra defeito ao lado da palavra batatas.

Quando me sento num restaurante, ao invés de olhar o cardápio pelo preço, ou pelas divisões naturais de aves, peixes e carnes,vou logo às batatas. Aonde eu tiver o prazer de ler-lhes nome, sei que estou segura e por ali aportarei meu estômago sem medo de naufragar. Consinto comê-las até com peixe , como os ingleses, que enfrentam com garbo, o resto do mundo a torce-lhes o nariz. Que mal tem? Certamente, com batatas tudo vai bem.


Longe de mim querer causar qualquer celeuma entre as comidas, desde já aviso que são todas muito bem vida à minha boca. Mas, fazendo uma analogia com a mitologia grega, digamos que a batata seria Zeus, o pai de todos os deuses do Olímpio.Gosto também de arroz, de feijão, mocotó, dobradinha com paio e feijão branco, biscoitos recheados, doce de leite, brigadeiros, ...

Huuuuummm... com licença, vou pegar um babador e volto mais tarde.



Claudia Bontempo


2 comentários:

  1. Caramba, veja só que belo texto a Dorotéa te inspirou! Nhoque e textos deliciosos! Eu também gosto muito de batatas, mas no rol das divindades para mim entram somente o chocolate e a cerveja, pena que não combinem.
    beijo carinhoso
    Monica Noronha

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  2. Claúdia, o texto é uma delícia. Tão gostoso quanto um saco de batatas fritas, do mc donald´s que seja, quando se está de dieta. Mas aqui em casa o povo só come se tiver qualquer coisa e batata. E como quem descasca sou eu, tenho uma relação de amor e ódio com os tubérculos. Parabéns Paçoca

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