sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Gat@s e Gatinh@s

@s gat@s da minha casa vão procriar. Coisa rara hoje no mundo d@s gat@s com CEP, a maioria já nasce castrada. E em meio às muitas acusações de loucura sinto-me com o dever cumprido: vou ter net@s, finalmente. Enquanto minhas crias humanas não crescem vou ter net@s felinos.
A estória da dupla não é muito original. ELA foi comprada com promessa de pedigree, apesar de eu nunca ter corrido atrás para saber se tinha mesmo, não faria a menor diferença; ELE foi achado nas ruas perdidas da cidade maravilhosa.
Seu relacionamento, em geral muito fraterno, começou pela maternidade. Logo de início, às primeiras cheiradas, ELA adotou-o como filhote. Era lindo ver a dupla andando embolada pela casa, ELA dando bronca em que ousasse pisar naquele projeto de gato. Com o passar do tempo veio a adolescência dele e a maturidade dela. Sem muito preconceito, decidiram reajustar a relação e tornaram-se amantes. Não foram poucas as vezes que precisei dar conselhos a ELE: cara, não se transa com ninguém à força, não vê que hoje ELA não está a fim? (Não julguem mal o meu gato, muito marmanjo humano ainda não aprendeu isso.) Não sei se ELE entendeu os meus conselhos, mas ELA rapidamente aprendeu a estabelecer limites severos! (Meninas, se vocês quiserem, eu lhes empresto a minha gata para um bate papo).
Depois de um longo namoro e muita expectativa por parte da família acho que finalmente ELA está grávida. Só que aí me veio um problema, quer dizer, o problema ainda não chegou, mas eu o prenuncio: quem criará a nova geração? Aqui em casa a população está completa. Eu como mãe e minhas duas duplas, uma humana e outra felina. Começo então uma lista de candidatos e candidatas a pais e mães adotiv@s (não vou citar nomes e qualquer semelhança com a vida real é mera coincidência):
1) Em primeiríssimo lugar, o pai da minha dupla humana. Sempre adorou bebês e crianças, tem a maior paciência, ótimo pai, experiência em criar espécimes dos dois sexos. Mas detesta gat@s.
2) Os meus pais, claro! Tiveram três, entre filhos e filha, e um monte de cachorros em casa. Mas minha mãe, ela detesta gat@s.
3) Minha tia então, mora sozinha numa casa enorme, mãe postiça da gente: também os detesta.
4) Minha amiga, claro, mãe adotiva de dois garotinhos lindos. Seria até bom para as crianças, cresceriam junto com um bichinho! Adivinhem: detesta gat@s
Paro atônita. Meu Deus, quanto preconceito! Por que tanto ódio aos felinos? Se soubessem como são amorosos! Agora mesmo ELE está aqui deitado aos meus pés enquanto escrevo. Que outro homem faria isto? E higiênicos, que ninguém precisa sair às ruas com eles, coleira em uma mão e saco de plástico na outra!
Mas então, por quê? Seria por sua famosa liberdade? Sim, realmente, ao contrário de cadelas, cães e humanos em geral felinos experimentam uma enorme liberdade. Nunca vêm correndo em sua direção com o rabo abanando, não babam por você, não choram se você resolve dar uma saidinha, não lhe esperam atrás da porta e comem e bebem muito bem se você se ausentar por uns dias (desde que lhes deixe comida e água, é óbvio). Ao contrário. Aproximam-se de acordo com a sua vontade (felina), suportam muito bem a sua ausência (humana) e rapidamente tornam-se donos e donas do pedaço. Se você sai, quando chega em casa encontra-os dormindo , indiferentes à sua ausência. Donos de sua vida o são desde sempre. Será por isso todo esse ódio?
Numa última tentativa, ofereço os futuros bichanos a outro grande amigo, gay assumidíssimo, militante, do tipo que sabe bem na pele o que é preconceito. E o que é liberdade, ele vive solteiro no Rio de Janeiro, sem filhos, tem entrada em todos os espaços, oficiais e alternativos. E o que ouço? Tá louca, eu detesto gat@s. Chego então à conclusão de que tudo o que me resta é construir um puxadinho lá em casa, uma espécie de sofá-extra, para abrigar a nova geração. A não ser que você seja uma pessoa sem preconceitos, sem qualquer desconforto com a liberdade alheia, digo, felina. Quer um@ gatinh@?

2 comentários:

  1. Querida Mônica
    Você pediu críticas sinceras, no que fez muito bem. Às vezes ficamos com receio de melindrar o colega e medimos as palavras deixando de tratar do que é essencial. Agora, como você disse, já temos uma intimidade intelectual suficiente para nos entendermos e superar qualquer impropriedade que possa aparecer numa crítica.
    Quero inaugurar esta nova fase e espero que você me acompanhe.
    Achei sua crônica sobre os gatos excelente do ponto de vista literário (que atrevimento, meter-me a crítico literário). No entanto, chamou-me a atenção o seu estado emocional. (pior ainda, consultor sentimental!) A exacerbação com que você trata as pessoas que não gostam de gatos, ou seja, todas as que estão ao seu redor, e o seu desmesurado amor pelos gatos, me parecem exagerados. Não seria o caso de você cuidar um pouco mais dos humanos? Perdoa-me se eu tiver cometido dois erros: Errado no diagnóstico, por meter-me em área que não domino e, o que mais me desgostaria, meter-me na sua alma. Se o fiz foi pelo apreço e respeito que lhe tenho.
    Com o mesmo beijo fraterno dos tempos de Severino.
    Luigi

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  2. Ah! Não tenho nada contra humanso em geral, não! O texto foi mais uma brincadeira do que outra coisa. Eu estava tentando escrever um texto mais sério e não conseguia, quando vi o Rum (meu gatinho) deitado aos meus pés. Ele é um gato vira-lata puro sangue mas com alma de cachorro, me segue o tempo todo pela casa, reclama quando vou sair... como vê, nem ele é perfeito. O que tem de sério no texto, e me chama realmente a atenção, é o quanto de ódio os gatos despertam. Não imagina como eu já ouvi essa expressão: detesto gatos. De graça. E não é: não gosto de animais, ou não quero me prender a animais, etc. A fúria é dirigida as felinos. Por que será? Eu brinquei com a idéia do ódio à liberdade deles, mas nem sei se é isso mesmo!
    Aguarde o Kundera, ele já vem!
    Monica Noronha

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