segunda-feira, 18 de janeiro de 2010


Pensamento Rápido.

Eu adoro ver filho feliz. Falando assim até parece que tem alguém nesse mundinho que não adore e que estou me pondo de mãe melhor que as outras mães. O problema é que tenho uma relação meio esquisita com essa felicidade toda que quero dar para os meus filhos. Acho que tudo que me deixou triste nessa vida, tenho que evitar que eles sintam,consequentemente, tudo que me deixou ou me deixaria feliz eu me apresso a proporcionar para eles. Muito estranho, muito estranho.Acontece que estou sempre um passo na frente deles e as vezes estou doída de toda, enquanto eles estão lá só aproveitando.Pareço a linha de frente de uma infantaria que abre o caminho para a glória da vitória dos vencedores. A gente vê, todo machucado, a alegria do herói conquistador. Estou aqui falando esse monte de besteiras, porque hoje é um domingo bonito de sol, muito calor é claro, mas era para eu estar querendo curtir a vida e passear. No entanto, estou com uma dor horrível, pior que a de dente. A dor de saudade de mãe.Como gosto pra burro de viajar pelo mundo, coloco os meninos para viajar também por causa daquele meu problema que já expliquei lá em cima, e os danados adoram e ficam alegres que nem pinto no lixo. Arranjo tudo direitinho, corro de um lado para o outro para conseguir isso para eles, mas quando vão, eu fico com uma saudade de arrebentar o coração. Quero ficar na cama com a coberta até o cocoruco da cabeça, sem ver ninguém, de tanta tristeza .Se ainda tivesse uma caixa bem grande para eu me enfiar, com água, um pouquinho de comida e um telefone só para atender a chamada deles, seria melhor ainda. Mas tem sempre alguém para vir me aporrinhar as idéias e dizer que eles estão bem, que estão curtindo, que estão adorando e tudo mais . Que preciso me preparar para quando eles voarem pelas próprias asas, que tenho que preencher meu tempo com as minhas próprias coisas. Mas é claro que eu sei disso, ora que merda. E por que será que todo mundo confunde saudade de doer com falta do que fazer ? Me diz, me diz como é que se tira sentimento de dentro da gente? E o pior é que nem posso gritar um Ai, bem agudo, pois aí me chamam de doida. Então não quero falar com ninguém, pois é melhor ser uma doida quieta, pois ninguém percebe. Quando me lembro dos trâmites todos para chegar ao produto final dessa viagem,penso neles em todos os momentos, quando estavam do meu lado. Lá na agência de viagens trançando os primeiros planos, olhando o mapa do mundão, depois a gente almoçando juntos,contentes de ter dado o primeiro passo e falando abobrinhas. Os conselhos que eu dei, as perguntas, as bobices , tudo fica grudado na minha cabeça, .As bagunças que a gente fazia no carro, quando ia para as brunchs das reuniões dos futuros estudantes do intercâmbio. É...eu to muito mal, mesmo. E eles estão felizes lá do outro lado do mundo, enquanto estou vivendo para as 15 horas de fuso horários de diferença.De noite nem durmo, já que eles estão acordados por lá, fazendo tudo de bom e acho que tenho que compartilhar toda essa alegria com eles, mesmo que só em pensamento. De dia aqui, noite lá, é a hora que guardo para fazer o montão de trabalho que tenho, rezar para Deus protegê-los e chorar um pouco, pois a coisa tá feia mesmo. Caramba, acabo de descobrir, que além de toda moída vou passar esse mês mais velha 15 horas, por causa da viagem deles, e só vou recuperar minha juventude quando eles voltarem. Ai que droga , essa dor de saudade mãe é tão solitária que dá medo !


Claudia Bontempo

7 comentários:

  1. Estou orgulhoso de vocês. Orgulhoso e emocionado. Vocês já podem dizer que formam um grupo literário. Parabéns. Felipe Pena

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  2. Claudia,
    Meus parabéns pela crônica. Está linda, comovente e...virtuosa. Viu o que Mestre Pena disse aí? Pois é, vamos caprichar para que êle continue se orgulhando dos seus pupilos. Quanto ao tema tratado na sua crônica, que tanto me sensibilizou, - lá vou eu metendo o dedo na alma dos outros novamente - curta com orgulho a sua saudade. Chore muito, escreva cartas e poesias, faça longas caminhadas, promova festas em sonho, grite na solidão do banheiro, mas não deixe que os meninos saibam. Solte os meninos! Não os atormente com choro de mãe. Passarinho só volta ao ninho para criar mais passarinho.
    Juro que daqui pra frente vou me manter dentro dos varais literários.
    Um beijo, que lhe estou devendo, e mais outro por sua bela crônica.
    Luigi

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  3. Cláudia, mãe doida e doída. Mas sobretudo corajosa. Digamos que você vive uma espécie de luto. A dor da perda é horrível sim. Solitária. Também "tetesto" quando estou sofrendo e alguém vem me dizer para tocar a bola para frente. E Eu que nem jogo futebol fico com uma raiva danada. E quando estou com raiva que alguém me diz para ter calma. Já viu alguém se acalmar com isto? Não sei o que dizer para te consolar, em consulta ao rei dos clichês imagino que ele diria que vai passar, ou que o tempo passa rápido.
    Só fico feliz que você consiga escrever lindamente ainda que esteja aos pedaços. bjs da Paçoca

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  4. Parabéns Claudia.

    Temos no grupo uma escritora já formada. Uma boa escritora.

    Só falta o mundo merecer conhecê-la.

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  5. Gente, tá difícil postar comentário, os computadores aqui de casa conspiram contra mim, Já rasculhei uns três. Desisto (por hora)
    Monica

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  6. Oi Cláudia,

    Sabe, um dia vi num filme, um personagem aconselhando ao outro que escrevesse para diminuir o seu pesar quanto aquele tipo de angústia que estva sentindo.

    Não sei se foi bem o que aconteceu com você, mas me lembrei desta cena. Entendi que seu texto foi uma espécie de descarrego. Aliando uma linguagem do nosso dia-a-dia (bem escrito), um tema em que muitas se identificam, e um sentimento verdadeiro: A crônica só podia ser boa! Parabéns!

    Se me permitir, Claudia. Por gostar tanto deste tipo de escrita e por este tema vou escrever sobre ele para próxima semana. Só que claro, pela minha visão de filho.

    Saudações!

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  7. Outra coisa: Acho que faltou o título, não?

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