domingo, 17 de janeiro de 2010

As Canções dos Beatles e Eu



A cada dia fico mais espantado com o avanço da tecnologia. Por exemplo, não lhe impressiona o fato de que o conteúdo presente, antes nos LP’s e CD’s, abarrotados em estantes, cabe agora num objeto menor que uma caixa de fósforos? Tratando-se de uma pessoa eclética, sob meu ponto de vista logicamente, tenho quase de tudo em meu Ipod. Nele habitam gêneros desde o rock do Guns N’ Roses ao estilo único de Frank Sinatra e o ritmo caliente do Buena Vista Social Club – pois é sempre bom dar uma mexida no corpo, quiçá acompanhado. Entretanto uma banda, em especial, mexe comigo de forma diferente.

Em mais um dia destes rotineiros me presencio sentado em frente ao computador tratando de assuntos burocráticos. Com minha cabeça a ponto de explodir, busco com uma pressa equivalente a de quem quer se livrar de uma dor de barriga o Ipod em minha mochila. Ficava cada vez mais impaciente, o problema era que a mochila mais parecia uma daquelas bolsas das mulheres. Quanto mais eu tirava, mas tralha aparecia. Encontrei... Finalmente! Sempre por último é claro, mas isso Murphy explica. Eu quero ver mesmo ele me explicar o porquê de sempre eu achar o fone de ouvido com uns duzentos nós aproximadamente, sendo que o guardei todo certinho. Como dizia uma amiga, acho que dentro destes compartimentos existe um duende mágico, que não passa de um sacana querendo curtir com a nossa cara.

Após uns 10 minutos desatando nós, sigo trabalhando e escutando as músicas em modo aleatório no Ipod. Minha auto-estima tem uma pequena melhora após três delas, mas é na quarta que recebo o baque. Era Hey Jude do The Beatles. Instantaneamente, parei o que estava fazendo. Meio que hipnotizado, somente me restava relaxar e desfrutar o momento. É curioso o que acontece comigo quando ouço uma canção dos Beatles. Não tenho uma explicação bem definida, mas é como se, naquele instante, todos os males fossem jogados para fora do meu corpo. Era uma espécie de purificação.

Lembro-me da primeira vez que eu os ouvi. Na verdade foi num filme, ícone de uma geração da qual peguei carona. Tal geração que viu seus desejos serem realizados por Ferris Bueller, personagem eternizado por Matthew Broderick, matando aula para curtir a vida adoidado como quando canta Twist and Shout pelas ruas de Chicago numa plena e saudosa sessão da tarde.
Depois desta vieram outras: If I Fell, Can’t Buy Me Love, While My Guitar Gently Weeps e All You Need is Love são exemplos de perduro desta nossa relação. O engraçado é que, quando as aprecio pela primeira vez, quase sempre é pela interpretação de outro artista. Nunca sei que são deles. Foi assim como nos casos de In My Life e You’ve Got to Hide Your Love Away. Somente, como em casos de posterior procura na Internet ou questionamento aos amigos, é que descubro os reais autores. E a fala é sempre a mesma: “Que isso! Essa música também é dos Beatles? Não pode ser... Mais uma.”

Não ouso dizer o tão quanto as canções que mencionei, quanto as demais do vasto acervo do grupo de Liverpool, marcaram a vida de inúmeros mundo afora. Nem mesmo explicar qual é o segredo de tanto sucesso por todos estes anos. Todavia, me arrisco em afirmar que existe uma espécie de poder, magia. Tal poder este que contagia e, independentemente de qual geração ou tribo for, seja no passado ou no futuro, funciona como um aviso sobre o que realmente importa. Um aviso sobre o que realmente precisamos para termos uma vida bem vivida.
Bom, mas isso são entre as canções dos Beatles e eu. E com você?

5 comentários:

  1. Meu caro Delano
    Já no segundo parágrafo percebi que era você quem escrevia. Estilo leve e solto, e uma atenção para com as picuinhas que a vida de hoje nos impõe. O fio sempre enroscado do fone de ouvido e, uma coisa que temos em comum, um duende que administra essa bagunça toda. A diferença é que eu o chamo de capeta, mas suas funções são idênticas.Outra coisa interessante na sua crônica é o tema - música popular - assunto que pouca gente domina.Continue produzindo porque... não sei não... mas acho que o Dapieve vai ficar com inveja de você! Luigi

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  2. Delano,
    como falar de Beatles sem ser repetitivo? Como você fez, com seu olhar de aprendiz, com simplicidade e "estilo leve e solto". Também adoro os Beatles. E, aquele filme, Curtindo a Vda Adoidado é muito bom. Apesar de já estar com uns trinta anos quando o vi pela primeira vez sempre dou boas gargalhadas com a cara de pau do protagonista!!!

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  3. Eu não enrolo fio nenhum. Assim, só tenho o trabalho de desenrolar!

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  4. Delano,
    Seu estilo de escrever é marcante, calmo, seguro e intimista, só falta pedir ao garçon;
    - Por favor ! Uma água com gás !
    Como não sou nem um pouco comedida, as vezes até me assusto com a minha insensatez, aprecio esse seu ritmo e aprendo muito com ele.
    A crõnica em si também é uma aula de cultura musical. Muito boa.

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  5. Bem vindo ao time! Estávamos sentindo a sua falta!
    Interessante você associar música com estado de espírito, comigo também acontece assim, nada no mundo muda tanto meu estado de spírito do que música. Para o bem e para o mal. Bem legal a crônica. E agora que finalmente "chegou", "fique"!
    Noronha

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