quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

A creche do tio Vavá

O tio Vavá vai abrir uma creche. Isto já está mais do que decidido. Só falta acertar alguns detalhes. Creche Tio Vavá. Olha como soa bonito! E o tio Vavá coça a barriga de satisfação. Ou talvez o melhor seja Jardim Escola Tio Vavá. Quem sabe? Esse é um dos detalhes que faltam, o nome. Outra coisa: tio Vavá decidiu que a sua creche deve ter horta e criação de bichos, assim uma espécie de Creche Escola Fazendinha do Tio Vavá. Isso ficou bem claro para ele quando Luizinho, neto do amigo Belarmino, veio com a novidade: tio, você sabe quem vai ter filhotinhos? A Pintinha, minha gata malhada. Estou doido para ver ela colocar os ovinhos, quantos serão? Tio Vavá quase caiu para trás! Como assim, meu filho, desde quando gata bota ovo, o que você anda aprendendo na escola? Depois de algumas explicações, meio sem graça, meio deprimido, tio Vavá foi tomar umas geladas no bar do Bigode enquanto pensava na vida. O problema está na escola moderna! Essa garotada anda crescendo com um monte de coisas na cabeça, computados, não sei mais o quê, e não sabe nem a diferença entre uma galinha e uma gata. Quer dizer, saber eles sabem, assim, quando já estão nascidos, mas aposto que nunca viram galinha botar ovo e gata parir cria, aí ficam falando esse monte de bobagens. Na sua época, lá no sítio da tia Jurema, não tinha conversa, desde cedo a garotada aprendia logo o que era a vida. Daí nasceu a idéia da creche. Com horta e criação de bicho.
Tio Vavá também ainda não decidiu o que vai plantar na horta da sua creche. Pensou em várias coisas, mas tudo acaba dando na mesma: alface, cenoura, temperinhos, não sei mais o quê, tudo idéia da mulherada do prédio, estão de olho é no almoço de domingo. Tio Vavá quer alguma coisa mais original, e que seja útil também. Andou pesquisando na internet e teve a idéia de plantar uma planta com nome bonito, Cannabis sativa. Dizem que cresce em qualquer lugar, em todos os continentes, tem uso para uma porção de finalidades. Pelo que descobriu a planta não é comestível, mas tem efeitos medicinais. A droga é a mulherada novamente ficar de olho na sua horta, vai ser um tal de pedir erva para curar resfriado, dor de barriga, enxaqueca, insônia, até em encosto vão querer que ele dê jeito. Também não consegui descobrir onde vendem mudas da... como é mesmo o nome, vai demorar para gravar, Cannabis sativa. Isso ele não conseguiu descobrir na internet. Mas não deve ser difícil, em qualquer mercado hoje em dia vendem mudas de ervas, é só perguntar, quem tem boca vai a Roma.
Bigode, mais uma gelada!
Então está certo: cannabis na horta e uns bichinhos para ensinar a vida aos moleques. Os bichos ele já decidiu: galinha, que depois de dar pintinhos pode virar ensopado, as crianças inclusive vão aprender de onde vem a galinha que elas comem em casa, e gatos. Gato é bom, tem um cio atrás do outro, fazem tudo o que tem que fazer sem vergonha nenhuma e depois as gatas parem, aí as crianças vão saber tudo de uma vez, sem historinha de cegonha, bilhetinho para papai do céu... Ficam inventando essas bobagens e dá nisso, menino pensar que gata bota ovo.
Bigode, mais uma!
O que falta agora? Ah, o que a garotada vai comer? Ele descobriu que tem que ter café da manhã, almoço e lanche, não é isso? Foi o que apurou nas conversas. Café da manhã não tem problema, uma boa média, pão com manteiga e ovo frito, seu café da manhã favorito quando era moleque. E no caso vão ter as galinhas, os ovos estão garantidos. O lanche dá para improvisar, criança adora cachorro-quente, pipoca, batata frita, bolo de chocolate, pão doce, é só variar o cardápio que elas vão lamber os beiços. O problema é o almoço. Droga, a Carminha não concordou em ser a cozinheira. Comprar comida congelada não vale a pena, vai sair muito caro, e criança tem bom gosto, não gosta de comida com gosto de isopor. Então, meu Deus, quem vai fazer a bóia da garotada? Ele é um desastre na cozinha, para si mesmo até que dá para o gasto, na dúvida frita umas lingüiças, compra pão fresquinho, umas geladas e pronto! Mas não dá para oferecer lingüiça e pão para os moleques, não que não fossem gostar, mas todo dia?! Tem mesmo é que arranjar alguém pra pilotar o fogão. Se o seu caso com a Margarida não tivesse terminado do jeito que terminou estava resolvido, ela é cozinheira de mão cheia, e com o monte de filhos que teve sabe muito bem o que criança gosta. Só que ela não quer ver tio Vavá nem pintado em ouro, nunca mais, seu safado. É, tá difícil, corre o risco da creche não sair por falta de cozinheira.
Bigode, a saideira!
Bom, depois ele pensa nisso, vai assuntar na vizinhança, não é possível que com tanta criança nascendo, tanta mulher barriguda nesse mundo não tenha uma que saiba cozinhar bem e precise de dinheiro, é só procurar direitinho que ele encontra. Agora o último detalhe: onde vai ser a maldita creche?
A conta, Bigode, tenho muita coisa ainda para fazer hoje!

Um comentário:

  1. Mônica,
    já tinha postado um comentãrio para esta sua crônica. Acontece que ele deve ter desaparecido nos labirintos do google. Foi bom, pois reli e tenho algumas considerações.
    Gosto do ritmo que você imprime as suas crônicas. Parece "um road moovie". Agente lê correndo, como se as palavras saíssem correndo na frente. Parabéns, isso é um estilo. Coisa muito difícil de se conseguir.
    Um ponto negativo para mim ( quem sou eu?) não está propriamente no texto, mas na diagramação. Os parágrafos não ficam nítidos e quando há diálogos sinto falta do travessão.
    Os nomes são criativos e eu adoro: Tio Vavá, Belarmino, Bigode...
    Ah! agente se sente muito bem ambientada no bar, sem nem mesmo você ter descrito a cena, é possível imaginá-la, só com a frase: - mais uma bigode! Bjs da Miranda.

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