sábado, 16 de janeiro de 2010

DE APLAUSOS E DE VAIAS

O aplauso do blogueiro é o comentário.
Num teatro onde se representa qualquer coisa a platéia costuma se manifestar aplaudindo, quando gosta, ou vaiando, quando não gosta do que vê. Tem sido assim desde a tragédia grega até os cantadores do Nordeste. Em muitos casos, o público alcança um grau tal de entusiasmo que aplaude em cena aberta, obrigando os atores a suspender a representação, mantendo-se congelados em suas posições. Na ópera isto é muito comum quando o tenor ou a soprano terminam uma ária mais difícil. Dependendo da intensidade dos aplausos e dos gritos de bis...bis... o cantor retribui com uma repetição da ária.
Mas nem sempre há aplausos. Também há desaprovações. Muitos tenores foram vaiados em cena aberta por desafinarem e disto não escapou nem o grande Pavarotti num dia em que sua goela o traiu.
Os aplausos e as vaias são, para os atores, a bússola que os orienta e os incentiva a prosseguir – ou não – no seu trabalho. Pessoalmente sou contra os apupos e vaias. Pode-se deixar de aplaudir algo de que não se gosta mas vaiá-lo é uma violência que desonra o ser humano..
Para o blogueiro que transpira na labuta quotidiana extraindo das entranhas palavras e pensamentos na esperança de levar ao seu leitor um pouco de seja lá o que for que o faça pensar, rir, chorar, sonhar, dormir, xingar, lamentar ou seja lá o que for, merece também um aplauso, uma desaprovação, ou seja lá o que for.
Porque o aplauso do blogueiro é o comentário
Mas não se assuste caro colega se os comentários que você receber nem sempre lhe forem favoráveis Vou mostrar-lhe o que Millor Fernandes, o grande Millor, recebeu quando estreou a peça “Um Elefante no Caos”, em Julho de 1960:
1 - “Um Elefante no Caos”, simplesmente não é teatro” - Van Jafa, no Correio . da Mãnhã
2 – “Millor é um individualista pré marxista, preso a um sistema ético-familiar.” – . Paulo Francis, no Diário de Notícias.
3 – “O enredo nada tem de interessante.” – Brício de Abreu, no Diário da Noite.
4 – “Conseguiu Millor Fernandes uma coisa dificílima; transportou para o palco . sua seção humorística de “O Cruzeiro”. – Zora Seljan, O Globo

Acho, também, que você não deve se apoquentar por ter escrito, alguma vez, alguma bobagem. Grandes escritores já escreveram grandes bobagens. Console-se, por exemplo, com esta pérola escrita pelo admirável Oscar Wilde:
“Não gosto dos atuais livros de memórias. Em geral são escritos por pessoas que esqueceram completamente tudo o que viveram ou então não fizeram nada digno de lembrança”
Quanto a mim, sinto-me envaidecido. Soltei as amarras. Começo a minha carreira de crítico descendo o sarrafo no Oscar Wilde.

Finalmente, considerando que nos dias de hoje todo mundo anda extremamente ocupado, resolvi apresentar uma coleção de comentários pré-fabricados que facilitarão o leitor, anônimo ou não, a fazer sua crítica. Não precisa nem ler a matéria. Muitos deles se ajustam a qualquer tema.
Estão separados em duas categorias: na primeira estão comentários já usados, extraídos de blogs existentes, portanto autênticos. Destes, alguns foram recondicionados ou receberam pequenos consertos, outros apenas retoques de pintura.
A segunda categoria apresenta comentários novinhos em folha – para quem não gosta de mercadoria usada.

COMENTÁRIOS SEMI-NOVOS

1 - Será que crônica tem a ver com a indignação do cronista?
2 - Gostei do seu texto!
3 - Seu texto está muito bem escrito mas não me parece uma crônica.
4 - Gostei muito da sua crônica. Eficientíssima ! O colega conseguiu mostrar o quanto o trágico pode ser cômico, e isso é muito difícil descrever de forma literária. Meus sinceros elogios!
5 - Somente, do meio para o fim é que achei que estava lendo uma crônica.
6 - Bem escrito mas completamente fora do tema.
7 - Parece que tem o dom de descrever o universal, mas ficou confuso.
8 - Estava gostando muito no início mas quando comecei a ver a série de palavras terminadas em “inhos e inhas” cortou o meu baratinho.
9 - Ótimo texto. Seria êle uma crônica?

COMENTÁRIOS NOVOS EM FOLHA

1 – Sua crônica é chocha mas bem escrita.
2 – Li, pacientemente, a sua crônica.
3 – Parabéns! Tente novamente.
4 – Caro cronista: você diz que é um incompreendido. Já tentou escrever para um manicômio?
5 – Gostei da sua crônica. Ela me faz rir.
6 – Nunca li um parvo. Abri uma exceção para você.
7 – Escrevi um comentário tão maluco quanto a sua crônica. Por isso não ouso publicá-lo.
8 – Linda, a sua crônica, lembra-me o quadro “Guernica”, de Picasso..
9 – Sua crônica está saborosa. Vou comê-la com meus amigos, acompanhada de muita cerveja e batatas fritas.
10 – Absit injuria verbis.
11 – Fui induzido a ler os seus Hái- Kais. Comparo o suplício a que fui submetido com o de uma galinha condenada a bicar micro-partículas de fubá em lugar de grãos de milho.

7 comentários:

  1. Caríssimo, porque não assinou o texto? Teve medo dos aplausos, digo dos comentários?
    A partir de hoje mudei de sonho. Não quero mais ter problemas de sintaxe. Quero receber críticas como esta: "Millor é um idividualista pré-marxista, preso a um sistema ético familiar" Paulo Francis.
    Na verdade não entendi direito o que isto siginifica, mas achei importante!

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  2. Querido amigo,
    Você como sempre, um Mestre !

    Como a Paçoca, também quero comentários importantes, ainda que não sejam elogios.
    Mostrei a minha crônica das Batatas para um amigo e ele escreveu o seguinte;

    "Mesmo não compartilhando com tanta ênfase seu gosto, gostei do texto. Acho que sua linguagem está cada vez mais solta, e talvez um pouco inspirada no Veríssimo, conversando e estabelecendo uma maior intimidade com o leitor.

    Uma sugestão, se bem vinda, seria reforçar e brincar com o "crime" de gostar de batatas, talvez com um ato de comê-las escondida, fugindo aos regimes ou normas sociais, etc."

    Gostei da crítica, já que percebi que faltava algo mais na crônica.
    Sugiro a nossa turminha então que sejamos mais severos em nossos comentários, apontando os acertos mas também as falhas.
    Afinal, estamos entre colegas unidos pelo afeto e pelo objetivo de aprimorar a escrita.

    Que tal ?

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  3. Agora é sério, concordo com a Claudia, acho que a gente tem que parar um pouco de brincar de espelho e começar a se criticar realmente. Acho que no fundo estamos todos meio apaixonados pela possibilidade de escrever livremente e sermos aceitos, acolhidos pelo grupo, e isso é maravilhoso, não quero que se perca. Mas podemos justamente aproveitar essa grande generosidade que encontramos juntos para nos sentirmos a vontade em escrever o que quisermos, como autores, e olharmos o texto dos outros com olhar crítico, mas unicamente com a intensão de ajudarmo-nos a escrever cada vez melhor. Me fiz entender? Vou trancrever um texto do Kundera, super oportuno. Me aguardem, vou postá-lo daqui a pouco.
    beijos
    Noronha

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  4. Colegas,
    fiz algumas correções no meu texto. Vale a pena ler de novo.
    Monica: tomei a liberdade de incluir o seu primeiro comentário na lista de pre-fabricados. Achei-o primoroso.
    Claudia: não comentei ainda a sua crônica (belíssima)porque tentei colocar uma foto do quadro "Os Comedores de Batatas", de Van Gogh, mas enrolei-me nas teclas. Além disso, seu texto mexeu nas minhas memórias e eu fiquei poetando sem conseguir escrever nada. Fico lhe devendo o comentário e o prazer do devaneio a que sua crônica me levou. Devo-lhe, também, um beijo.
    Luigi

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  5. Meu querido Luigi,

    Estou esperando, ansiosa, o comentário e o beijo.

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  6. Caro Luigi,

    Tecnicamente comentando, sua crônica possui artifícios como as referências intelectuais, os recursos de exemplificações por tópicos e o conteúdo histórico (característica que mais aprecio). O texto consegue prender a atenção e causar reflexão.

    O mais interessante é que você conseguiu causar esta reflexão indiretamente, transmitindo uma mensagem pelas entrelinhas. Cá entre nós, acredito que direcionada a um certo púclico.

    Como sugestão, caso queira ampliar esta mensagem a um grupo maior, só acrescentaria um paragráfo após a lista de exemplos para finalizar a crônica. Escrevendo assim é difícil explicar, mas vai ficar fácil quando nos encontrarmos novamente.

    Em resumo... "Gostei do seu texto!" (Referência Bibliográfica: SPREAFICO, Luigi - De aplausos e de vaias, Comentários Semi-novos, item 2. Blog Depois da Oficina, 15 de Janeiro de 2010).

    Saudações!

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