segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

O tio Vavá sou eu!

Tio Vavá nasceu no dia 15 de fevereiro de 1942, num belíssimo domingo de carnaval, praia e sol, no mesmo dia em que sua querida Portela conquistava o bicampeonato e quarto título da sua estória. Do lado de fora havia uma guerra. Sua mãe queria muito que ele fosse uma menina, sexto filho, sexto menino, muito macho dentro de casa. Seu pai, todo exultante, mais um varão, que disso ele entendia, fazer filho homem. Mais alguns e ele teria um time de futebol completo dentro de casa para dar bastante inveja aos amigos. Mas isso ele nem ousava falar perto da Laurinda, sua esposa,que ela não podia nem ouvir falar de mais um filho, quanto mais de outro filho homem. Deixa estar, seis já é um número bonito.

Quando registrado, tio Vavá ganhou o nome de Valdomiro, mas logo, logo veio o apelido de Vavá. O “tio” só veio mais tarde, quando foi nascendo a carreira de sobrinhos, verdadeiros e postiços, tantos que ele não sabe a conta. Mas por muito tempo era o “Vavá” na rua e o “tio” em casa, até o dia em que ele teve a infeliz idéia de levar aqueles moleques, filhos de seu irmão mais velho e outro do amigo, na nova sorveteria do bairro. Saiu de casa todo prosa em seu Fusquinha verde, carroceria lustrada por ele mesmo, tinindo de nova, dentro do carro não tinha nem poeira de tanto que era o capricho que ele tinha com o carro. Passou primeiro na casa do irmão, catou os seus três moleques, a pequenina ficou dormindo com a mãe, e depois na casa do amigo Neném, na época só com o Francisquinho. Com os quatro no carro rumou para a tal sorveteria. E avisou para os moleques: hoje é dia de festa, cada um pode escolher uma casquinha gigante com calda e tudo! Na sorveteria tio Vavá pegou uma mesa, sentou cada menino em um lado, tudo perfeito, que fossem agora escolher seus sorvetes enquanto ele tirava a água do joelho. Foi só o tempo de urinar e lavar as mãos, enquanto apanhava uma toalha de papel escutou a mocinha que servia soltando um grito agudo, desesperado, seguido do pedido de ajuda: Pelo amor de Deus, quem é o tio Vavá? No mesmo instante ele escancarou a porta do banheiro enquanto respondia: o tio Vavá sou eu!!! e dava de cara com a cena, os quatro cobertos de sorvete, cabelo, mãos, camisa, tudo lambuzado, melado, sorvete de várias cores, caldas de chocolate, caramelo e morango misturadas a lágrimas e alguns arranhões, cena de guerra. Pelo amor de Deus, o que houve por aqui? perguntou num fio de voz. Tio, foi ele que começou, encostou de propósito no meu sorvete que quase caiu no chão, aí eu quis derrubar o sorvete dele e ele jogou na minha cabeça, aí eu ia jogar o meu na cabeça dele, mas pegou no Francisquinho e aí o Francisquinho quis bater na gente com o sorvete dele e aí caiu tudo no chão, desculpa, foi sem querer!

Alguns segundos depois, tempo de recuperar pelo menos a voz, tio Vavá pagou a conta e saiu da sorveteria arrastando os moleques pelo que restava das camisas. E então veio a segunda onda de desespero, quando parou em frente ao seu Fusca: aqui não, seus moleques safados, aqui não! Aqui vocês não entram nem mortos. No meu Fusca, não! Vamos voltar a pé! Mas tio Vavá, é muito longe, a gente vai ter que andar o bairro todo! Exatamente, azar o de vocês, seus filhos da puta, que as suas mães me perdoem, que elas são umas santas de aturar vocês todo dia! No meu carro, nem mortos, nem mortinhos e enterrados!

E lá foram os cinco, ele e os quatro meninos, pelas ruas do bairro, os menores chorando, ficaram sem sorvete, todos melados e ainda por cima tinham que andar aquilo tudo a pé, os maiores reclamando: mas tio Vavá... E foi assim que Vavá, flamenguista, Portelense roxo, solteirão convicto, funcionário dos Correios, passou a ser o Tio Vavá para todo o bairro. O problema era só as suas princesas, ser chamado de “tio Vavá” seria demais!

6 comentários:

  1. Moniquinha,
    Eis o personagem do Tio Vavá tomando forma. Divertido, desastrado e falante. Agora vou aguardar as proximas aventuras, as primeiras, de cara já gostei.

    Beijos atrapalhados,

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  2. Querida Mônica,
    como diz a Claudia, Tio Vavá vai tomando forma.(o cacófato é proposital, aviso antes que me desanquem) As histórias são divertidas. Imagino como serão as estrepolias que ele vai aprontar nos Correios.
    Luigi

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  3. Me aguardem... Aliás, como promessa é dívida, não esqueci a que eu fiz no Mercado São José, será postada em breve!!

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  4. Moniquinha,
    eu queria um tio vavá para mim. Queria que ele me levasse de fusquinha verde para passear na quinta da boavista e comprar algodão doce e tirar um retrato daqueles que colocam no prato e que só tem lá e que é meu sonho. Um retrato no pratinho.
    O que eu quis (como se sescreve quiz?) dizer é que tio vavá é verdadeiro. Memória inventada da boa.Parabéns! Curiosa que sou, se não for nennhuma indiscrição gostaria de saber qual foi a promessa feita no mercado s. josé. É para que eu possa cobrar depois, jé que promessa é dívida. um beijo da paçoca

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  5. Olá
    Acabei de ver que o comentário que eu postei depois do seu comentário da outra cronica do tio Vavá (ficou confuso, cruzes)não saiu. Eu concordo com você quanto à formatação do texto, tenho mania de não usar travassão. Acho que vou ter que usar outros artifícios para escrever diálogos, tipo aspas, itálico... e ainda brigo com o editos do blog para a formatação do texto.
    Em relação à promessa, é o seguinte: a mulherada ficou meio indignada com o etxto d enosso companheiro sobre a mulher feia, acho que a carapuça caiu meio na gente, aí prometi que o tio Vavá iria dar o troco. Acabei de escrever ontem, vou postar daqui a pouco.
    Eu só consigo escrever comentário no computador dos meus filhos, a merda do velox não está funcionando no netbook. Sexta mudo para a virtua, minha paciência acabou com eles da oi-velox.
    beijo
    Monica

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  6. Paçoca,
    Quis é com s de Sadia e já é não é jé... rs,rs
    te peguei !!!!

    Beijos retardados,

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