segunda-feira, 25 de janeiro de 2010

Pânico na fila do elevador

- É sobrancelha, mãe. E, não, sombrancelha!

Adolescentes são críticos vorazes, mas ela tinha razão. Eu passei a vida toda falando errado e precisei esperar uma filha adolescente me corrigir. Eu não sabia, fiquei roxa, mas aprendi! Acho ótima a sinceridade dos adolescentes. De certa forma este tipo de crítica me transmite segurança. Tem coisa pior que ficar horas a fio conversando com alguém e a pessoa não ter a naturalidade de dizer que você está com um caroço de feijão horroroso no dente? Seguramente nenhum adolescente deixaria escapar.


Naquele dia, tinha marcado dois compromissos para praticamente o mesmo horário. Um às 11:30 e o outro 11:45. Teria que desafiar as leis da física e as de trânsito, para honrar meus compromissos. Tive então que optar entre ir à neurologista ou ir retocar minhas sobrancelhas.


11:20 lá estava eu parada na porta do elevador que me levaria ao consultório da Dra. Denise. Notei que uma senhora me olhava. Um pouco mais baixa que eu (que não sou alta), com um cabelo branco, pintado de louro-desbotado, amarrado na altura da nuca com um laço preto. A roupa era discreta. Os olhos bem maquiados chamavam atenção e davam a ela um certo ar de mistério.


Ia dizendo que a Senhora me olhava. E, sempre que alguém me olha, insistentemente, eu ajeito o decote. Mesmo que minha roupa não seja decotada, quase nunca é! Ajeitei o decote e a senhora, com ar de mistério, continuava me olhando. Insistentemente! Olhei para trás, para cima e nada. O elevador não chegava, a fila aumentava e a senhora me olhava. Disfarçava e me olhava. Foi quando, de repente, ela veio andando em minha direção, com um papelzinho na mão.


Apavorada, pensei. Pronto! É uma vidente! Viu minha aura e vai me fazer uma revelação hedionda. Meu coração disparou, dava para ver pelo decote os pulos, saltos e piruetas que ele fazia. Chegou pertinho do meu ouvido. Achei que ia desmaiar.


Pequena pausa para falar sobre o meu coração. Outro dia fui ao cardiologista, interessada em conseguir um atestado médico para voltar a praticar natação. Levei uns“elétros” todos modernos e coloridos. O doutor não quiz me liberar sem que antes eu fizesse um teste de esforço. E, se, ele visse o estado que ficou meu coraçãozinho com essa senhora um tanto sinistra andando na minha direção e murmurando no meu ouvido?


- Preciso do modelo de uma sobrancelha como a sua, passe em meu consultório que eu te dou uma consulta grátis.


Ainda com os lábios sem cor, guardei o papelzinho, que ela me entregou, como quem entrega uma trouxinha de maconha.


Fui à minha consulta na neuro. O compromisso das 11:45, e que eu não pude ir, era justamente com a Mareana. Uma iraquiana de um metro e meio e que modela minhas sobrancelhas com uma linha de costura. Mareana é ocupadíssima, e há meses não consigo que ela tenha um tempinho para fazer as minhas sobrancelhas.


Na volta, sozinha no elevador e bastante curiosa abri o papelote que dizia: Faço levantamento de pálpebrás, acertando sua linha de sobrancelhas de acordo com seu tipo de rosto...Sobrancelhóloga com 30 anos de experiência!


E eu que ignorava que existiam sobrancelhólogas!

12 comentários:

  1. O autor não assinou a crônica, mas pelo jeito de ajeitar o decote imagino que seja a Paçoca, a mais comedida das tres mocinhas do "Depois".
    Paçoca me lembra sempre aquela velha frase de Juca Chaves " Uma dama na sociedade..." com todo o respeito, ou "borboleta voa ", pelo modo com que suas bochechas se ruborizam quando fica envergonhada. Aquilo alí é sangue quente do bom por dentro...
    Se não for, Paçoca, peço desculpas pelo engano , mas não retiro o que disse.
    Quanto à crônica, adorei o modo como brinca com a esquisita palavra sobrancelha, que deveria ser mesmo "sombracelha", afinal faz uma sombra sobre os olhos. E pude sentir a correria do dia a dia de uma agoniada mulher cheia de pequenos afazeres. Sempre tive vontade de escrever sobre esse corre-corre de uma dona de casa que tem mil coisas para fazer, em mil lugares diferentes e para muitas pessoas que dependem dela.
    Já tive época de achar que o relógio era o meu melhor amigo e confidente, aquele que estava ao meu lado na saúde e na doença, na alegria e na tristeza.
    Acertou o ritmo! Bingo !

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  2. Cláudia,
    imagino que a autora desta crônica, nâo a tenha assinado, por um lapso, ou por um ato falho como iria atestar um psicanalista de plantão. Não queria revelar-se, mas não sabia que não queria. Agora já era. Esta é mesmo uma crônica da Paçoca.

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  3. Cara Paçoca
    Gostei muito da sua crônica, uma verdadeira ode ao quotidiano. Mas o que faz aquele macaco soprando na orelha da pobre moça? E ainda mais na fila do elevador, esse meio de transporte que para mim é sagrado, que vai e volta sem se cançar, conduzindo não só as pessoas mas também seus sonhos, seus projetos, suas vitórias e seus fracassos. Esse macaco polue a sua crônica. Remova-o de lá, mas pela escada!
    P.S. Se a figura horrenda não for um macaco mas o símbolo do seu psicanalista ou um modelo de sobrancelha, desculpe-me. Mas que êle é feio, é.

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  4. Se você retirar este horrendo cançar com cedilha e trocar por um cansar politicamente correto, eu até penso em tirar. O carinha que você não gostou é o médico do médico e o monstro. Ele também não tem mais acento faz algum tempinho. Obrigada pelo gostei muito da sua crônica!!!

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  5. Passoca, Passoca querida
    Fui apanhado num erro de ortografia - um autêntico golpe baixo. Está bem, vou estudar gramática mas nem por isso o seu monstro vai embelezar a sua crônica. E o elevador continua sendo um meio de transporte insubstituivel.
    Continuo seu admirador incondicional.
    Luigi

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  6. Este comentário foi removido pelo autor.

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  7. Meu querido Luigi,
    Você escreveu o nome da Paçoca com dois ss ? E repetiu ??
    Hoje baixou o Caboclo Misinfin Corretor nas moças do "Depois", por isso, rapazes prestem atenção.
    Já fui também lá na crônica do João puxar a orelha dele.
    Só falta Emanuel Villanova querer se meter a besta...

    beijos desaforados

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  8. Tô quietinho no meu canto só urubuservando ocês aí fora dando uns gritos e umas gargalhadas...

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  9. Só não posso falar o que tô fazendo agora, a Marcia não ia gostar não, de jeito nenhum, de jeito maneira, bissolutamente, excomunga, sai pra lá sô!

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  10. Claudia
    Foi vingansa, Claudia, foi vingansa! Beijos aforados! Luigi

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  11. Gente, não é nada do que vocês estão pensando.

    Sou viciado em paçoca, mas daquela paçoquinha feita de amendoim esmagado com açucar.

    Tenho sempre uma perto de mim e naquela hora estava saboreando uma que havia acabado de comprar na rua, já que o meu estoque terminara ontem.

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  12. Caramba, quanta coisa acontecendo e eu por fora, dando voz ao caboclo "tio Vavá"!
    Como eu disse no comentário anterior, só consigo postar crônicas e comentários no computador dos meus filhos, ou seja, quando eles não estão em casa. Já tinha lido a crônica da Paçoquita, mas não tinha podido fazer comentário. Esse cotidiano de três coisas no mesmo horário é tópico de nós, mulheres, que tentamos abraçar o mundo todo ao mesmo tempo. E gosto mundo de textos sobre as coisas mais triviais, como conversas de elevador. Aliás, esse é um dos espaços mais privilegiados de observação, todo mundo olhando para o chão fingindo que não está nem aí para o outro...O seu está realmente ótimo.
    Terminando, sugiro uma vaquinha para a gente comprar um dicionário para a rapaziada...Gente, o word acusa erros ortográficos!!!!
    beijos carinhosos
    Monica Noronha

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